São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Brasil sofre reflexos da turbulência mexicana

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Sete dias infernais mostraram que a turbulência provocada pela bancarrota mexicana chegou definitivamente ao Brasil. Ao final de uma "semana negra" para os mercados financeiros internacionais, o México tem um novo plano econômico e caminha para uma severa recessão. A Argentina, que há pouco tempo dispensava uma pequena ajuda do Fundo Monetário, bateu às portas dos organismos internacionais com a corda no pescoço e um pedido que pode chegar a US$ 5 bilhões. A recessão ronda o país vizinho e o Brasil, ao elevar os juros e desvalorizar o real, colocou o pé no freio das atividades econômicas.
A fuga de capitais dos três maiores mercados da América Latina tirou-os do mapa do capital de risco. Eles terão que fazer ajustes em suas economias —tão mais severos quanto menor o volume de dólares acumulados em suas reservas internacionais.
Deles, o que mais chances tem de sobreviver é o Real. Nenhum ministro da Fazenda pôde dormir tranquilo. Domingo Cavallo varou a madrugada no Congresso argentino implorando por reformas e colocando como alternativa o abismo. A equipe brasileira atravessou a noite de quinta. Mas da noite insone de Pedro Malan e de Pérsio Arida, não saiu nenhum pesadelo.
Comparem-se as medidas do México e da Argentina e as brasileiras parecem suaves. Cavallo conseguiu restringir o teto para aumentos da Previdência e quer fazer um dos principais impostos, o IVA (sobre valor agregado), saltar de 18% para até 25%.
O sistema financeiro argentino está em crise. Os correntistas sacaram pelo menos US$ 4 bilhões de seus depósitos e aplicações. Fusões e aquisições varreram do mapa 27 bancos em apenas dois meses —restaram 141 instituições intranquilas com sua solvência. Um fundo de US$ 1 bilhão de apoio a problemas de liquidez já foi praticamente consumido e agora o governo argentino espera utilizar parte dos dólares que eventualmente venha do FMI para ampliar esta linha de socorro.
O México anunciou na quinta seu pacote, apoiado em sua verdadeira âncora —US$ 53 bilhões provenientes de uma força-tarefa de resgate comandada pelos EUA. Para se ter uma idéia da falência mexicana —no auge da "crise da dívida externa" de 1982, o país foi salvo pelos mesmos parceiros a custo de US$ 5 bilhões.
O novo plano sepultou os "pactos" de solidariedade entre empresários, governo e sindicatos, renovados desde 1987. As autoridades mexicanas estimam que seu Produto Interno Bruto decresca 2% e produza 700 mil desempregados adicionais —25% da população já vivem na miséria absoluta. Se tudo der certo, a inflação vai a 42% no ano (foi de 7,1% em 94).
Os que ganham o salário mínimo, de US$ 2 a hora, terão aumento de 10%. Para os assalariados que ganham de dois a quatro mínimos haverá bonificação e os demais negociarão livremente seus reajustes. Tudo isto apimentado pela intenção de realizar um forte arrocho monetário e corte de gastos do governo.
O peso se valorizou, os analistas de investimentos interessados saudaram as boas novas, mas o tom realista ficou por conta do homem que todo mundo gosta de ouvir em épocas de turbulência, Alan Greenspan, presidente do FED, o Banco Central americano. "Foi o menor dos males", disse.
Desta cadência dependerá em grande parte o vigor e a duração do aperto do freio da equipe econômica que pilota o Plano Real.

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