São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Desconfiança em Clinton derruba dólar

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O dólar norte-americano sofreu esta semana sua maior e mais rápida desvalorização dos últimos 50 anos pela mesma razão por que o governo Clinton é impopular, apesar de seus excelentes resultados econômicos.
Nem a população dos EUA nem os investidores dos mercados financeiros internacionais confiam na capacidade de liderança da atual administração.
Todos os motivos imediatos listados para explicar a queda-livre do dólar são consequências dessa falta de credibilidade de Clinton e companhia.
A principal causa da fuga do dólar é que os investidores querem o maior retorno imediato possível e acreditam mais na capacidade do marco alemão de lhes proporcionar esse lucro do que na do dólar.
Eles acham que o México é o Vietnã financeiro dos EUA, que a crise mexicana pode contaminar a América Latina e que uma hecatombe hemisférica não deixará de ter efeito sobre norte-americanos.
Depois, eles não acreditam mais na capacidade de Clinton e o Congresso republicano se entenderem e reduzirem de forma significativa o vexatório déficit do orçamento do governo federal.
Para completar, a única autoridade norte-americana que desfruta da simpatia dos mercados internacionais, Alan Greenspan, acenou com a possibilidade de baixa de juros, o que acabou de apavorar os investidores.
Em termos objetivos, a queda do dólar não afeta muito a economia do país. Pode provocar alguma pressão inflacionária, mas ela está sendo compensada pela desvalorização do peso mexicano e do dólar canadense.
Além disso, apesar de o déficit da balança comercial norte-americana ser imenso, ele representa só 3% do PIB do país.
Entre 1985 e 1987, de forma gradual, o dólar perdeu um terço de seu valor diante do iene e a economia dos EUA prosperou.
As consequências graves do dólar fraco são as políticas. A Alemanha passa à condição de país da principal moeda forte do mundo.
No extremo, pode provocar nervosismo no mercado de ações e valores capaz de jogá-lo para baixo, aí sim com efeitos desastrosos para a economia. Mas isso só acontecerá se o nível de confiança doméstica em Clinton se mantiver baixo como está.

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