São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palmeiras x São Paulo é jogo de faísca

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ambos vêm de longe e de duras jornadas para se encontrarem esta tarde pelo Campeonato Paulista.
Mesmo cansados, quando Palmeiras e São Paulo se encontram, sai faísca. É uma velha rivalidade que se acirrou ainda mais nestes tempos em que palestrinos e tricolores dividem entre si as maiores glórias que o futebol oferece.
O Palmeiras foi ao Equador, perdeu uma, ganhou outra. Perdeu para o Nacional, numa altitude de quase 3.000 metros acima do nível do mar, por 1 a 0, mas merecia ter vencido. Jogou melhor, Edmundo desperdiçou um pênalti e acabou levando o gol no finalzinho, também de pênalti. Dois dias depois, pegou o Emelec, e, apesar da pressão da torcida, estimulada ainda mais pelo clima hostil criado por Edmundo, que errou o pênalti, mas acertou a câmera de um cinegrafista de TV, meteu 3 a 1 no adversário, dando-se ao luxo de chutar pra fora umas três chances incríveis de ampliar o marcador.
Resumindo: mesmo diante de tantas adversidades, agravadas pelo gesto impensado de Edmundo, o Palmeiras mostrou sua cara de campeão.
Em contrapartida, o tricolor passeou pelo Japão. Obteve os três resultados que um jogo de futebol oferece e voltou na quinta, para na sexta botar seus meninos correndo diante do Sergipe. Sofreu no primeiro tempo, mas, no segundo, com André e Juninho no meio-campo, deu um show.
Quem está melhor neste instante? Abstraindo-se o natural cansaço de ambos, mesmo assim fica difícil dizer. Até bem pouco tempo atrás, não havia dúvidas: o Palmeiras era melhor do que o São Paulo, assim como os sinais se invertiam, se recuássemos mais duas temporadas.
Hoje, com todos os titulares em campo (menos Edmundo), há um claro equilíbrio, cotejando-se jogador por jogador.
O diferencial seria justamente Edmundo, um craque capaz de desequilibrar qualquer comparação, porque incomparável no domínio da bola, na invenção das jogadas, na irreverência diante do adversário, no drible incontido etc.
Tanto, que o Matinas, capitão e técnico da seleção de juniores, celebrava aqui mesmo o futebol engenhoso de Edmundo com um trocadilho, um hit da era do swing, marca registrada de Glen Miller, "In the Mood".
O diabo é que, quando entra em campo, nunca se sabe se Edmundo será "In the Mood" ou a paródia brasileira gravada nos anos 50 por Ademilde Fonseca, cuja primeira frase era a seguinte: "O Edmundo nunca sabe bem o que faz". Contava as trapalhadas de um rapaz distraído demais. E concluía: "O Edmundo, minha gente, não tem jeito, não!"

O técnico Leal, da seleção de juniores, ameaça não convocar jogador que use brinquinho, ostente farta cabeleira ou fale palavrão. Apenas uma perguntinha: jogar bola, pode?
Uma última perguntinha: de onde desencavaram essa múmia?

Texto Anterior: Resultado na Libertadores reanima time do Palmeiras
Próximo Texto: O árbitro e a regra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.