São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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O árbitro e a regra

SÍLVIO LANCELLOTTI

Não deveria causar nenhum impacto a suspensão do árbitro Silas Santana, que se afogou num torvelinho de erros durante o combate Corinthians x União de Araras.
Não deveria causar nenhum impacto a velocidade com que a comissão de mediadores da FPF decidiu afastar Santana do apito por 30 dias. Na verdade, medidas de tal gênero deveriam representar uma rotina no futebol do Brasil.
Na Europa, a punição dos mediadores frágeis e/ou incompetentes é fato normal e corriqueiro.
Os clubes e/ou a imprensa não precisam se escandalizar com os equívocos de um árbitro para retirá-lo dos gramados. Faz parte das obrigações das federações o acompanhamento das atuações de seus contratados, sejam eles da primeira divisão ou das ligas amadoras.
Apenas nesta temporada, na Itália, três dos principais apitadores do país já foram encostados ou remetidos a um estágio, digamos, de reaprendizado, em partidas sem importância ou expressão.
Paralelamente, a Federcalcio costumeiramente organiza, no seu Centro de Treinamento, nas imediações de Florença, seminários de atualização e reciclagem. Ao menos uma vez por mês os árbitros da Bota se submetem a testes de fôlego e suficiência física.
Por causa da dinâmica do futebol, principalmente por causa da modernização de certas regras, a reciclagem é crucial. Dou um exemplo radical. Na última semana, autorizada pela International Board, a Fifa decidiu reescrever o parágrafo terceiro da regra número 11, que regula o impedimento.
Hoje, o texto do parágrafo diz: "Um jogador não deve ser punido com um impedimento simplesmente por se encontrar em posição de fora de jogo". Confuso, não? Mais do que isso, bem vago.
Na essência, o parágrafo sugere aos mediadores que não interrompam um lance de ataque por causa do impedimento passivo —por exemplo, um atleta fora de jogo no lado direito do campo enquanto a peleja se desenvovle no flanco oposto. Para evitar a disparidade de interpretações, a Fifa pretende ser mais incisiva na nova redação do texto da regra de número 122.
Melhor, em julho realiza encontro com cerca de cem apitadores dos cinco continentes, os árbitros teoricamente pré-selecionados para as eliminatórias da Copa da França. No encontro, assevera Andreas Herren, porta-voz da entidade, a Fifa literalmente vai "bombardear" os juízes com teipes de impedimento passivo. "Não existe outro modo de uniformizarmos os critérios", diz Herren.
Para o nível dos apitadores do Brasil, bombardear é pouco.

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