São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Cirurgia pode ser solução para diabetes

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em maio de 1933 um grupo de pesquisadores começou nos Estados Unidos experiência de implantação de cápsulas contendo ilhotas de Langerhans no abdome de diabéticos do tipo 1 ou juvenil. Só mais tarde se conhecerão os resultados finais da experiência, que deve abranger 20 pacientes.
O diabetes é causado pela deficiência do hormônio insulina, produzido e secretado pelas células "beta" situadas nas ilhotas de Langerhans, aglomerados celulares espalhados pela massa do pâncreas.
A deficiência, por sua vez, decorre da destruição das células "beta" por processo ainda não bem conhecido; as duas explicações mais comuns são a ação de algum vírus ou processo auto-imune, no qual as forças de defesa do organismo se voltam contra ele mesmo, atacando algumas de suas estruturas.
A função da insulina é absorver a glicose e regular o seu teor no sangue dentro de estreitos limites. Quando ela falta, a glicose se acumula excessivamente no sangue e quando ultrapassa determinados níveis chega a passar para a urina. Desde que na década de 20 se descobriu o papel da insulina no diabetes, a injeção do hormônio passou a ser o principal tratamento do diabetes um.
Mas a injeção diária (e às vezes mais de uma vez por dia) é incômoda e nem sempre garante proteção exata contra as variações do teor de glicose. Por isso têm-se desenvolvido dispositivos automáticos que regulam a quantidade de insulina que a cada momento é injetada, de acordo com as variações da glicose.
Os cientistas norte-americanos sob a direção de Patrick Soon-Shiong, do Wardsworth Medical Center de Los Angeles, imaginaram fornecer insulina aos diabéticos de maneira contínua e por longo tempo (meses) pela implantação de ilhotas de Langerhans no abdome. A injeção abdominal de meio milhão dessas estruturas pode manter normal a glicose por muitos meses.
Mas até agora a pessoa que recebe essas ilhotas tem de ser injetada com imuno-supressores para evitar que o sistema imune ataque as células implantadas, o que restringe a aplicação da técnica a pessoas que normalmente tomam esses supressores em consequência de transplante renal. Para contornar esse inconveniente, Soon-Shiong e colaboradores colocaram as ilhotas dentro de cápsulas gelatinosas, feitas de alginato (produto extraído de algas).
O alginato deixa passar a insulina e a glicose, mas barra moléculas maiores e glóbulos brancos. Além disso ele tem de ser muito purificado, para ficar com predominância do ácido gulurônico em relação a outro componente, o ácido nanurônico. O ácido gulurônico não sofre a ação do sistema imune ("Proceedings of the National Academy of Sciences", 90, 5843).
A implantação das cápsulas dura apenas 20 minutos e exige pequena incisão abdominal. Verificaram entretanto os cientistas que a mesma operação em cães acarreta inflamação nas primeiras semanas, que pode ser debelada pela injeção de mínimas quantidades de imune-supressor. Esperam os pesquisadores evitar essa dificuldade pela ainda maior purificação do alginato.

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