São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Brasil inova "surfe espacial"

HELIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasileiros podem estar entre os primeiros a praticar uma nova forma de surfe espacial. Pesquisadores no projeto internacional Omega querem pegar ondas gravitacionais.
Uma antena para captá-las foi proposta no Brasil em 1991. Em 1994, físicos do Brasil, EUA, Itália, Holanda e Austrália fizeram acordo para tentar provar com essas antenas que Albert Einstein, mais uma vez, estava certo.
Previstas na sua teoria da relatividade geral, as ondas gravitacionais jamais foram detectadas diretamente. Uma prova indireta da sua existência já valeu o prêmio Nobel de 1993 a norte-americanos.
Segundo Einstein, ondas são propagadas por qualquer massa acelerada, que "deforma o espaço em seu movimento".
Tais deformações são muito tênues, porém, para serem detectadas por antenas comuns. As ondas gravitacionais seriam a bagatela de 10 dodecilhões de vezes mais fracas que ondas eletromagnéticas.
"Só há chance de observá-las em eventos no Universo que as produzem com bastante intensidade", disse à Folha Odylio Aguiar, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), autor do brasileiro Projeto Gráviton. São eventos como as explosões de estrelas conhecidas por supernovas.
Uma vez emitidas, as ondas gravitacionais viajam até a Terra à velocidade da luz. Em vez de pranchas, os "surfistas" inventaram complexos dispositivos para tentar pegá-las na passagem.
O Gráviton —uma das partes do Omega— prevê a construção de uma antena em forma de bola de futebol ("buckyball"), dependurada. A antena foi batizada Einstein.
Em teoria, ondas gravitacionais devem distorcer o espaço ao passar e provocar ínfimas vibrações em Einstein —a antena.
No vácuo e perto do zero absoluto (cerca de -273 oC), Einstein deve ter detectores capazes de sentir vibrações da ordem de um milionésimo do tamanho do próton.
Tal precisão deve bastar para pegar ondas de supernovas próximas à Via Láctea, o que ocorre em média a cada quinzena.
Detectores em atividade, que em vez da bola de futebol usam uma barra horizontal dependurada, só têm precisão para detectar uma supernova dentro da galáxia.
Estima-se que, na Via Láctea, as explosões aconteçam a cada 30 anos. Desde funcionam (década de 70), os detectores com barras nunca pegaram ondas de supernova.
Mas essas antenas não são as únicas dos "surfistas". Outra técnica usa laser. Um raio é dividido em dois e levado a um jogo de espelhos até que ambos os feixes se anulem. Ao passar, a onda os desvia, e a luz chega a um detector.
O problema é que o laser tem de viajar quilômetros para que o desvio possa ser sentido. Para isso, estão sendo escavados túneis de 4 km, verdadeiras salas de espelhos.
O custo delas gira em torno de US$ 150 milhões, e só ficam prontas no século que vem. Einstein deve custar US$ 7 milhões e pode ficar pronto lá pelo ano 2000.
Todos os projetos se complementam, porque são necessários pelo menos três detectores para pegar as ondas. "E se isso não ganhar o Nobel, passa perto", brinca.

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