São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Governo de Angola e rebeldes violam a paz

The Independent
De Londres

KARL MAIER
EM MISSÃO DONDI, ANGOLA

Esta semana o acordo de paz angolano, assinado há três meses, parecia estar se encaminhando ao mesmo destino desta distante missão católica, habitada apenas por esqueletos humanos.
O movimento rebelde Unita (União pela Independência Total de Angola), de Jonas Savimbi, e o governista MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola), do presidente José Eduardo dos Santos, se acusavam mutuamente de preparar-se para retomar a guerra civil, que já dura 19 anos.
O representante da ONU, Alioune Blondin Beye, culpava os dois lados por solapar o acordo de paz assinado em 20 de novembro em Lusaka, na Zâmbia, e dizia que a paciência da comunidade internacional está chegando ao fim.
A missão católica abandonada em Dondi transformou-se no foco de crescentes tensões quando as Forças Armadas Angolanas (FAA) acusaram a Unita de ocupar a área e enviar suas próprias tropas para tomar a vizinha Bela Vista.
Mas uma visita de observadores militares da ONU e oficiais da FAA e da Unita constatou que a acusação do governo é falsa.
Os observadores verificaram que tropas da FAA em Bela Vista, numa evidente violação do acordo de paz, haviam cometido saques, estupros e assassinatos.
O oficial da FAA que acompanhou os observadores, coronel Olindo Pinheiro, explicou a ocupação de Bela Vista, supostamente área de acesso proibido às duas partes. Ele citou o pânico provocado pelas afirmações de um desertor da Unita sobre alegada conspiração da Unita para arregimentar soldados e bombardeiros do Iraque, Bélgica, Marrocos e Israel para atacar posições do governo.
Analistas independentes consideram que o desertor, coronel Zavarra serve os interesses da propaganda do governo angolano.
Mas suas afirmações de que Savimbi estaria usando pistas de pouso clandestinas para reequipar suas forças soaram mais próximas à verdade. Beye e o principal comandante militar da ONU na região, o coronel nigeriano Chris Naruba, confirmaram que a Unita está bloqueando o livre acesso de observadores da ONU às áreas sob controle dos rebeldes.
Savimbi voltou a mergulhar Angola em guerra civil quanto rejeitou sua derrota nas eleições gerais monitoradas pela ONU, em setembro de 1992, e desde então os combates e a fome decorrente já provocaram 500 mil mortes.
A Unita só assinou o Protocolo de Lusaka, que prevê a presença de 7.000 soldados das forças de manutenção da paz da ONU, depois da FAA expulsar os rebeldes de várias posições-chaves.
Tudo indica que as forças do governo, com comandantes que se sentem frustrados porque não puderam aproveitar sua vantagem militar em relação à Unita, também estão violando a paz.
Além da ocupação de Bela Vista, tropas da FAA construíram uma nova base 3 km além da área restrita designada para elas, em Cruzeiro (16 km a leste de Huambo). Quando o coronel Pinheiro, da FAA, viu a base, disse que o oficial local, brigadeiro Recordação, não acredita em acordos de paz e havia mentido a superiores sobre a posição de suas tropas.
"Vou ter que convencê-lo a retirar estas tropas, mas ele não quer cooperar", disse Pinheiro.

Tradução de Clara Allain

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