São Paulo, domingo, 12 de março de 1995
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Risco externo pode ser maior que o latino

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Até algumas semanas atrás, Brasil e Argentina eram vendidos como completamente diferentes e mais imunes ao vendaval mexicano. A situação piorou na Argentina, onde a crise de crédito e a corrida contra o peso se acentuaram. O "risco argentino" aumentou na percepção dos investidores internacionais. Finalmente, a onda bateu nas praias brasileiras.
A dúvida maior, a partir de agora, é se foi apenas um susto e o Brasil "é diferente" ou se, ao contrário, quebrou-se a confiança na América Latina como um todo.
Há dois cenários básicos. No mais otimista, daqui a algum tempo a percepção seria invertida e a crise brasileira vista como efeito passageiro dos problemas no México e na Argentina.
Os chamados "fundamentos" da economia brasileira teriam força suficiente para sobrepor-se aos elementos especulativos. Nesse caso, a recuperação da economia brasileira aos olhos do investidor estrangeiro permitiria até o resgate da Argentina e do Mercosul.
O Nafta, nesse caso, seria relativamente mais prejudicado. Afinal, o tamanho da recessão na economia mexicana deve ser enorme nos próximos anos, expressão direta do tamanho do déficit comercial que aquele país acumulou.
Como a base industrial mexicana é mais precária que a brasileira, reverter o déficit comercial depende mais de reduzir importações através de regressão econômica.
A economia brasileira tem nesse aspecto um fundamento radicalmente distinto. Bastante industrializada, com a participação das exportações na indústria alcançando nos últimos anos uma média de cerca de 25%, a economia brasileira tem um potencial de aumentar exportações muito maior.
O volume de comércio (importações mais exportações) tem mostrado um desempenho razoavelmente estável ao longo dos últimos dez anos em termos de participação no produto nacional.
Isso sugere que o tamanho do desaquecimento econômico necessário na economia brasileira para reverter o déficit comercial é bem menor que na economia mexicana e mesmo na argentina.
Mas na decisão entre o cenário otimista de diferenciação do risco Brasil e o pessimista de reação generalizada ao risco latino estão alguns fatores que escapam ao controle dos governos locais.
Em primeiro lugar aparece o risco de as taxas de juros continuarem subindo nos Estados Unidos, como resposta do Fed (banco central norte-americano) à desvalorização do dólar nos mercados internacionais. Outro risco que vem de fora é a alta de juros ocorrer não apenas nos EUA mas também em vários países da Europa cujas moedas também sofrem diante do marco alemão, como a França.
O risco externo é, portanto, o de começar nas próximas semanas a gestação de uma recessão mundial. Os fundamentos brasileiros poderiam ser compensados negativamente por um estreitamento dos mercados internacionais.
Seria o pior dos mundos: combinação de fuga de capitais dos mercados emergentes com um desaquecimento global capaz de estimular medidas protecionistas.
Esses são os três níveis de análise de riscos que devem compor qualquer prognóstico no momento atual. Sobrepõem-se os riscos Brasil, latino e global.

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