São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Dinheiro retorna à poupança em março

MÁRCIA DE CHIARA ; SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dinheiro dá sinais que está voltando às cadernetas de poupança em março. A previsão é de que os depósitos superem em 0,5% os saques este mês, segundo a Abecip (Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança).
O que reforça a tendência de que março será o terceiro mês, desde a entrada do real, em julho do ano passado, com captação líquida (depósitos menos saques) positiva é a subida dos juros dos títulos públicos para conter a corrida ao dólar.
Ao modificar o sistema de flutuação do câmbio na sexta-feira passada, o Banco Central elevou os juros. A maior remuneração dos títulos públicos influencia toda a cadeia de juros da economia, incluindo o CDB (Certificado de Depósito Bancário) prefixado, que determina o cálculo da TR (Taxa Referencial), que corrige a poupança.
João Batista Gatti, presidente da Abecip, diz que a tendência é de estabilização, com pequeno crescimento no saldo. Segundo ele, a previsão de 0,5% é conservadora.
"O mercado está totalmente louco nesta semana para podermos arriscar maiores porcentagens", diz o presidente da Abecip.
Para abril, Gatti diz que a captação líquida deve crescer 1%, se não houver novas mudanças no cenário econômico.
Hoje, vários fatores estimulam os depósitos. Os principais, lembra Gatti, são a mudança no cálculo da TR e a subida, na última sexta-feira, da taxa do overnight com títulos públicos federais de 4,13% para 6% ao mês. Com isso, a poupança ficou mais atrativa.
Para Gatti, o dinheiro poupado em março deverá registrar maior rentabilidade do que o aplicado em renda fixa, fundo de commodities ou carteira livre.
"A poupança poderá, inclusive, atrair investidores mais especulativos", diz.
Além disso, o pacote anticonsumo, do final de fevereiro, já trouxe reflexos. "A redução nos prazos dos consórcios fez com que as pessoas começassem a poupar para comprar à vista o carro novo", exemplifica Décio Tenerello, diretor do Bradesco.
Segundo ele, a maioria dos crediários feitos no Natal foi liquidada pelos consumidores em fevereiro. Por isso, eles recuperaram sua capacidade de poupar neste mês.
A subida dos juros, que balizam a poupança, e o maior número de dias úteis em março contribuem para se obter maior rendimento.
Já em outros dois bancos, houve empate técnico entre os depósitos e retiradas no período. Mas as diretorias dessas instituições admitem que a tendência é de crescimento daqui para frente.
Só dois bancos, Unibanco e Banco do Brasil, registraram captação negativa no período de 0,4% e de 0,3%, respectivamente.

Em alta
No Banco Real, por exemplo, a captação líquida foi de 0,2% do saldo das contas em 28 de fevereiro no período entre 1º e 8 de março.
"A nossa expectativa é a de fechar o mês com crescimento entre 0,6% e 1%", afirma Antonio Luiz Candal, diretor do Real.
O Bradesco acumulava um saldo de R$ 5,714 bilhões na caderneta, até a última quarta-feira. Esse montante era 0,03% maior do que no final do mês passado, segundo Tenerello.
"A sangria dos meses anteriores estancou e a perperspectiva é de crescimento", diz ele.
Tenerello conta que um fato raro ocorreu na última terça-feira, quinto dia útil do mês. Nessa data, as entradas na poupança superaram em R$ 7 milhões as saídas.
"Normalmente isso nunca ocorre, porque a maioria das contas vencem nesse dia", explica.
Sem revelar cifras, Daniel Zabloski, gerente de finanças do Bamerindus, diz que os depósitos têm crescido desde o início do mês. "O poupador começa a perceber que a remuneração da caderneta tornou-se maior."
Apesar de registrar estabilidade entre o volume de saques e de depósitos até a última quarta-feira, Sérgio Castro, gerente de produto do Banco Nacional, aposta em crescimento no saldo da poupança de agora em diante.

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