São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995![]() |
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CDs explicam carreiras de cinco notáveis da MPB
LUÍS ANTÔNIO GIRON
O lançamento traz gravações da carreira das cantoras Elis Regina e Gal Costa, do roqueiro Raul Seixas (leia texto abaixo) e dos compositores Chico Buarque e Caetano Veloso. O formato dessas edições segue em parte a linha das caixas norte-americanas. Estas costumam abranger uma trajetória artística por quatro caminhos: coletânea de gravações remasterizadas digitalmente e ordenadas em cronologia; listas com a discografia completa; textos analíticos sobre o papel estético dos artistas enfocados; e —o grande chamariz para o consumidor, geralmente um fã— edição de faixas inéditas ou sessões rejeitadas a princípio pelo músico. A série brasileira não se preocupa em explorar as faixas inéditas. Todas os registros são oficiais e quase todos bem conhecidos do público. Isso tira um pouco o impacto da empreitada. O consumidor se sentiria mais feliz se tivesse acesso a faixas extras, que trouxessem aspectos novos em relação a determinada composição ou fase da trajetória dos seus astros favoritos. Os próprios autores dos textos se encarregaram de selecionar o repertório. Tiveram que sintetizar em 56 faixas a evolução de cada músico. Até o final do ano terão saído 15 volumes. Em julho saem álbuns de Jorge Ben, Marina, Sérgio Mendes, Tom Jobim e Ney Matogrosso. Em novembro, Milton Nascimento, João Bosco, Cazuza, Elba Ramalho e Maria Bethânia. O projeto é traçar um panorama dos últimos 30 anos de MPB. A maior parte do material vem do farto catálogo da Polygram, um dos principais sustentáculos empresariais da MPB gravada nas últimas décadas. É claro que a quantidade do material de cada artista varia com o tempo de contrato deste com a gravadora. Caetano Veloso, por exemplo, só gravou discos pela Polygram. Ao todo 31 títulos em 32 anos de carreira. O crítico Tárik de Souza não teve dificuldades de enfeixar o essencial do compositor e traçar-lhe os vaivéns estilísticos. Surpreende o baiano dividindo o primeiro LP com Gal ("Domingo", de 1967) em bossas da qualidade de "Um Dia" e "Coração Vagabundo". Passa pela fase tropicalista ("Superbacana", "Tropicália"), o exílio ("London, London") e chega ao estágio "odara", de "Tigresa", "Um Índio". Detecta o melhor período na passagem dos anos 70 para os 80, com "Muito Romântico", "Oração ao Tempo", "Peter Gast". Os organizadores dos volumes de Elis, Gal e Chico Buarque, respectivamente os jornalistas Maria Amélia Rocha Lopes, Lauro Lisboa e Humberto Werneck, não tiveram a mesma sorte. Enfrentaram o catálogo incompleto e tiveram que se restringir a períodos estanques. Compensam o problema com ensaios de alto padrão. Elis gravou muito na Polygram no fim dos anos 60 e início dos 70. Fica faltando a fase final, da Warner, considerada o seu ápice. A Gal dos anos 60 e 70 está toda ali. O ouvinte nota como ela forja progressivamente um estilo. Partindo da bossa nova, rompe com os padrões durante o Tropicalismo e chega a uma espécie de estilo clássico a partir dos anos 70. A fase mais recente é ignorada. Uma pena, já que Gal tem voltado ao experimentalismo. Werneck evitou as lacunas concentrando-se nos clássicos de Chico. A eleição tem caráter mais estético que diacrônico. Sucedem-se canções por afinidades temáticas e estilísticas, enquanto a roda do tempo permanece no ponto morto da década de 70 —a melhor do compositor. O panorama incompleto se deixa ofuscar pela beleza do projeto. Alimenta o fetiche da repetição. Série: Grandes Nomes Volumes: Chico, Caetano, Gal, Elis e Raul Seixas Lançamento: Polygram Projeto: José Eduardo Mendonça Quanto: R$ 80,00 (o volume com quatro CDs, em média) Texto Anterior: Cinemateca está na rota da destruição Próximo Texto: Raul Seixas vem inteiro Índice |
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