São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Fidel troca Marx por Calderón de la Barca

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Fidel Castro trocou o uniforme verde-oliva por um impecável terno escuro e substituiu os autores marxistas e o cubano José Martí, que tanto gosta de citar, para recorrer ao dramaturgo espanhol Calderón de la Barca.
"Toda a vida é sonho e, os sonhos, sonhos são", disse o mais antigo mandatário do mundo ainda no poder, ao iniciar ontem pela manhã discurso na Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social, em Copenhague (Dinamarca). Conhecido pelos seus intermináveis discursos, o Fidel Castro bem-comportado de Copenhague se deu até ao luxo de, como presidente da sessão da tarde, pedir que os oradores fossem breves, depois que o premiê marroquino, Abdellatif Filali, se estendeu demais.
Fidel ficou nos exatos sete minutos que os organizadores da conferência haviam determinado como tempo para cada orador.
Só não mudou uma vírgula de seu discurso conhecido.
"Onde as sociedades de consumo e desperdício se estabelecem como modelos para uma população que já ultrapassa os 5,7 bilhões de seres humanos, não pode haver nem meio ambiente que se preserve nem recursos naturais que não se contaminem ou esgotem nem desenvolvimento social possível", afirmou.
Fez, ainda, também previsivelmente, a defesa de Cuba, "criminosamente bloqueada porque não compartilha as idéias de seu poderoso vizinho do Norte".
Depois de lembrar que a desaparição do "campo socialista e da União Soviética" fez Cuba perder mais de 70% de seu mercado de exportações, Fidel disse:
"Cuba não fechou uma só escola, um hospital, um asilo de anciãos, uma creche infantil".
Por fim, pediu uma melhor repartição "das riquezas do mundo entre todas as nações e dentro das nações" e "uma verdadeira solidariedade entre os povos".
Só assim, Fidel disse, voltando a Calderón de la Barca, "Os sonhos de hoje poderiam ser realidades de amanhã".
O bom comportamento não impediu que o jornal dinamarquês "Politiken" lamentasse que a rainha Margrethe incluísse alguns ditadores entre os comensais do banquete de sábado à noite.
A foto de Fidel ilustrava o texto, ao lado de Omer Hassan Elbashir (Sudão) e do presidente da Indonésia, Soeharto.
Hoje, o líder cubano inicia viagem à França, onde será recebido pelo presdiente François Mitterrand. (CR).

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