São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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O exemplo de Pluto

HERCULANO ANGHINETTI

Sempre que surge na Câmara Federal um movimento suprapartidário, a opinião pública fica com a orelha em pé. Ou trata-se de aumento de salário dos deputados ou é a concessão de algum novo privilégio, mordomia, benefício, e por aí vai.
Neste verão de 1995, uma nova legislatura instalou-se. Ela substituiu um Congresso que, por várias razões, não desfrutava de muita popularidade. Também pudera. Não faltaram escândalos em Brasília nem episódios que só provocaram revolta e indiferença no cidadão comum.
Preocupados com este quadro pouco alentador, os novos deputados trazem o vivo desejo de mudar este cenário. Com este fim, foi lançado o "movimento suprapartidário pró-valorização do Poder Legislativo e do parlamentar".
Com agenda definida previamente, o movimento deseja resgatar a boa imagem do Poder Legislativo e, por via de consequência, do parlamentar, hoje denegrida após tantas peripécias protagonizadas por alguns políticos.
É claro que a imagem do homem público vai depender diretamente de seu desempenho. Paralelamente a isto, torna-se necessário que, como um bloco monolítico, a Câmara dos Deputados se empenhe na recuperação de seu prestígio, não só junto à população como também em relação aos demais poderes constituídos.
Objetivamente, alguns pontos consensuais foram elencados e, nas próximas reuniões do grupo, serão objetos de análise mais detida.
Não obstante nosso movimento tenha sua origem em um grupo de parlamentares de primeiro mandato, o movimento é aberto a todos os veteranos. Estes poderão emprestar a esta ação pioneira toda sua experiência.
Temas polêmicos, como a remuneração dos deputados, a imunidade parlamentar, a edição constante de medidas provisórias, a reforma constitucional e muitos outros compõem o portfólio que será debatido entre os integrantes do movimento.
A hora é grave e nós temos pressa.
A próxima reunião está marcada para a próxima quarta-feira, dia 15. Dela, já desejamos extrair algumas conclusões que serão levadas à mesa diretora.
A responsabilidade implícita a um mandato é algo incomensurável. No último pleito, milhões de brasileiros depositaram nas urnas sua esperança. Todos desejam um país melhor.
Nós não podemos permitir que a vontade de uns poucos destrua os anseios da maioria de promover o verdadeiro desenvolvimento. O Brasil precisa resgatar sua dívida social. E somente vai conseguir se o Congresso Nacional cumprir o seu papel.
Democracia significa liberdade política, mas a paciência do povo tem limite. Não pode haver cidadania enquanto persistir a miséria, e não existe certeza de que o eleitor dará uma segunda chance ao deputado que não cumprir sua missão institucional.
Para compreender melhor este quadro, é oportuna uma incursão pela mitologia grega. Segundo ela, Pluto (que não é o cachorro do Mickey!) é o Deus da riqueza. Em outras palavras, ele era louco por dinheiro.
Consta que Zeus iria matá-lo, para que deixasse de venerar o ouro. Entretanto, outros membros do Olimpo intercederam por Pluto, e Zeus então o cegou, deixando-o vivo.
É claro que isto é mitologia. Porém, serve para lembrar que todo cuidado é pouco. O eleitor pode perder de vez a sua fé e deixar muita gente cega.

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