São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 1995
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Sem o norte

Foi sem dúvida impressionante o esforço relativamente rápido do governo dos Estados Unidos para socorrer o México. Aos poucos vai sendo desembrulhado o pacote financeiro, ainda que sob críticas no Congresso norte-americano e de lideranças européias —irritadas com o tratamento privilegiado obtido pelo parceiro do Nafta no FMI.
Mas essa ajuda emergencial está longe de significar solução duradoura. A razão do ceticismo não está só nas dificuldades políticas crescentes do México ou na desagregação que se prevê para a economia mexicana nos próximos meses.
O fato é que a queda do dólar frente ao marco e ao iene superou as expectativas na semana passada e dificilmente será revertida. As autoridades monetárias do mundo industrializado compraram dólares e gastaram retórica para refrear a desvalorização da moeda norte-americana. Os efeitos foram modestos, para dizer o menos. Torna-se portanto bastante provável que se recorra mais uma vez à elevação dos juros nos EUA como forma de impedir que os investidores globais fujam dos ativos em dólar.
Essa hipótese ganhou força com a notícia de que o desemprego nos EUA atingiu em fevereiro seu nível mais baixo em quatro anos e meio: 5,4%, contra 5,7% no mês anterior. É praticamente pleno emprego.
O valor do dólar reagiu com base apenas nas expectativas de que os juros nos Estados Unidos subirão.
Os efeitos de novas altas nos juros internacionais sobre as economias latino-americanas são evidentes. O interesse dos investidores continuará declinante. Se a economia dos EUA entrar em rota de desaquecimento, diminuirão as oportunidades de exportação de produtos das economias que, como o México, precisam a todo custo reverter déficits no comércio exterior. A alta dos juros incidiria ainda sobre a dívida externa desses países, dificultando o equilíbrio de seus balanços de pagamentos.
Há na ajuda dos EUA ao México uma dimensão louvável, o esforço para evitar a catástrofe. Mas isso não evitará que em certas ocasiões, como agora, a política norte-americana acabe por agravar a situação da mesma economia que por outros meios tenta ajudar.
Ao menos em parte, o parceiro sulista do Nafta terá que encontrar um rumo sem contar com o norte.

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