São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995 |
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Natureza vinga-se do homem
INÁCIO ARAUJO
Mauro, enorme cineasta, tinha uma sensibilidade idem para tudo que implica uma cachoeira: a natureza, o movimento, a força, os contrastes, a sensualidade. É uma metáfora perfeita do cinema. Aliás, o filme roda dentro da câmera como uma cachoeira, de maneira regular e descontínua; a diferença é que o filme é puxado pela grifa e a cachoeira pela força da gravidade. O que aproxima Boorman e Mauro é a capacidade de ora aproximar e ora opor a natureza e o homem (a cultura). Em "Amargo Pesadelo", quatro sujeitos dispõem-se a descer um rio e suas corredeiras em canoas. O choque se dará no momento em que o grupo se verá às voltas com uns tantos criminosos dispostos a arrancarem suas peles, literalmente, e terão de buscar no fundo de si mesmos a reserva que lhes permitirá sobreviver. Desde o início, desde o notável duelo de banjos que precede a aventura, Boorman deixa clara sua posição sobre o assunto: o homem que invade a natureza de certo modo aventura-se no território do divino e torna-se sujeito às penas correspondentes. No caso dos quatro rapazes, um acontecimento singular. A reflexão, ao contrário, é bem mais abrangente: fala de um homem cujas relações com a natureza permanecem irresolvidas. E que ao não violarem os direitos da natureza passam a tê-la contra si. Pode-se ver "Amargo Pesadelo" ou dar uma olhada ao redor, dá no mesmo. Mas quem der uma olhada ao redor depois de ver o filme verá um mundo um tanto diferente. (IA) Texto Anterior: Pérsio Arida em 'PhDeu tudo errado'! Próximo Texto: Iran do Espírito Santo joga com tramas Índice |
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