São Paulo, terça-feira, 14 de março de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Muito ou pouco?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — A eficiência dos governos brasileiros iria melhorar consideravelmente se os indivíduos nunca esquecessem uma informação. Uma renomada empresa de auditoria e consultoria chamada Coopers & Lybrand realizou estudo revelando que cada cidadão trabalha três meses por ano só para o governo. É muito ou pouco?
A empresa tomou como base uma família de classe média da cidade de São Paulo —o casal e mais dois filhos. A renda familiar mensal: R$ 2.000. A partir daí, calcularam-se os impostos diretos (descontados na fonte) e indiretos (embutidos nos preços dos produtos). São contabilizados os impostos federais, estaduais e municipais.
Todos os meses, a família deixa para os governantes R$ 503,40, o que dá 25% do salário. Comparemos: se um indivíduo com 35 anos depositasse essa quantia mensal numa previdência privada, receberia uma renda vitalícia de R$ 2.000 aos 60 anos. Exatamente a renda bruta da família que se prestou como modelo do estudo.
Mas, afinal, é muito ou pouco? Pode-se encontrar alguns países civilizados onde o desconto seria ainda maior. O problema, porém, não está aí. Minha opinião: é muitíssimo. O retorno do imposto é baixo.
O indivíduo de classe é obrigado a colocar seus filhos numa escola privada, paga convênios médicos, não confia na polícia, as ruas estão esburacadas. O serviço público é inchado e desorganizado. As maiores vítimas são, em geral, os que não têm acesso a convênios ou escolas particulares.
Se o cidadão conseguisse lembrar-se todos os dias que, por ano, ele trabalha para ter 30 dias de férias e 90 dias ao governo, sua irritação cívica cresceria —e, com ela, a taxa de cobrança e fiscalização.
Suponha uma idéia maluca: o governo cobrar todos os impostos apenas nos três meses. O cidadão teria de viver com a poupança dos demais nove meses. De duas, uma: os serviços públicos melhorariam rapidamente ou teríamos todos os anos uma ameaça de insurreição popular.
PS — Uma idéia simples já ajudaria a taxa de irritação cívica: como nos EUA, os comerciantes deveriam informar nos produtos qual a taxa de impostos extraída pelos governos.

Texto Anterior: Governo sem partido
Próximo Texto: Uma só Justiça
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.