São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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'Eles acham que aqui é moleza'

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTA LUZIA (MA)

A fazenda Agronunes S/A tem atualmente dois empreiteiros de mão-de-obra, que contratam os peões para roçar mato. Um deles, conhecido por Bala, disse que está na fazenda há 17 anos e que, no momento, "o serviço é pouco".
Disse que a fuga é rotineira porque "eles não gostam do serviço". Bala tem 45 trabalhadores alojados em tendas no meio do mato e afirmou que fornece café, almoço e jantar para eles, sem descontar no salário.

Agência Folha — Por que os peões fogem?
Bala — Porque não gostam do serviço. Vêm pensando que é moleza e o serviço aqui não é moleza. Eu não trago mais gente da cidade, só trago gente do mato.
Agência Folha — Tem esse problema de ficarem endividados e não poderem sair?
Bala — Não. Quando tem um que foge a gente não vai mais atrás, não adianta.
Agência Folha — O sr. paga a dívida deles antes, do hotel?
Bala — Antes, porque às vezes eles vêm lá de Bacabal. Têm uma despesa, querem um dinheiro, têm uma dívida para pagar e a gente paga, a gente faz tudo. Aí quando ele chega, já chega devendo. Fazem um serviço ruim, isso acontece demais. Aí fogem.
Agência Folha — O pessoal hoje recebe salário mínimo?
Bala — A gente paga por produção de trabalho, R$ 70 a R$ 80 o alqueire, livre e desimpedido. Às vezes, um trabalhador acontece de fazer dois ou três alqueires em um mês.
Agência Folha — O sr. tem 45 peões e o outro empreiteiro?
Bala — Ele tinha 50, mas ontem foram embora 17.
Agência Folha — Fugiram?
Bala — Fugiram tudinho. Peão na hora que quer ir embora, não procura ninguém.
Agência Folha — Mas saem sem dinheiro?
Bala — Se têm, têm; se não têm, eles se jogam no meio do mundo.
Agência Folha — Mas eles não tinham nada a receber?
Bala — Me desculpe, que eu vou ali chamar o rapaz.
(CGk)

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