São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Cannes 1995

FRANCESC PETIT

O famoso festival da Sawa, o dos leões de ouro em Cannes, vive dias de crise devido a uma série de equívocos e trampolinagens por culpa da formação de jurados fracos e inexperientes, que dão prêmios a qualquer bobagem, sem o mínimo critério profissional. Eles premiam campanhas que jamais existiram ou comerciais que nunca foram veiculados e outras barbaridades que já são de pleno conhecimento dos publicitários mais experientes e bem-informados.
Infelizmente nada podemos fazer contra estas distorções terríveis que desanimam a maioria das boas agências, as mais sérias e até as mais premiadas.
Pessoalmente, não recomendo a ausência das agências brasileiras, mesmo sabendo que o lobby e a politicagem vão comandar este festival de 1995 em Cannes.
Creio que, com todos os riscos e prejuízos, devemos participar todos —agências, anunciantes e produtoras. Mas também temos obrigação de fazer chegar ao presidente do júri, o sr. Frank Lowe, as nossas preocupações com as confusões aqui no Brasil com a escolha de jurados de evidente tendência a uma facção do mercado publicitário que vem tentando tomar o poder através da pressão e da política.
Isso vem desestruturando uma sólida reputação que a propaganda brasileira tinha orgulho de possuir, produto de um trabalho pessoal de alguns donos de agências, por vezes criticados, mas que tornaram a nossa profissão respeitadíssima, tanto no meio empresarial como nos meios de comunicação e na área política.
Refiro-me ao saudoso Geraldo Alonso, a Sepp Baendereck, José de Alcântara Machado, Petrônio Corrêa, Mauro Salles, Oriovaldo Vargas e ao meu sócio Roberto Duailibi, inegáveis nomes que construíram o negócio da propaganda no Brasil sem timidez nem receio de colocar seus nomes na porta da entrada das suas agências.
Nessa época gozávamos de prestígio neste festival, tanto na conquista de prêmios como no desempenho pessoal de grandes figuras da propaganda brasileira, sendo convidados pelos mais altos representantes dos países presentes e retribuindo a cortesia dos grandes publicitários mundiais. Refiro-me a Alex Periscinoto, José Zaragoza, Caio Aurélio Domingues, Márcio Moreira, Sérgio Graciotti, Hans Dammann, Domingos Logullo, José Fontoura, Washington Olivetto, Ana Carmen Longobardi, Clóvis Calia, Paulo Ghirotti, Gabriel Zellmeister... e ao colega aqui presente.
A propaganda não é diferente das outras profissões ou atividades. Ninguém pode ir chegando e achando que já é dono do galinheiro e esculhambando a ordem dos frangos e das galinhas.
Ao contrário de toda esta bagunça em que nos vemos envolvidos e tentamos nos defender para lutar por prêmios justos e válidos, o AD, The Art Directors Club de New York me manda a lista de candidatos para jurados do próximo livro, já tão tradicional.
Reparem na lista impressionante, até parecem os nossos candidatos, ou escolhidos: Bob Gill, Bob Giraldi, Milton Glaser, Roy Grace, Steve Horn, Art Kane, Rick Levine, George Lois, Onofrio Paccione, Tony Palladino, Sam Scali, Louis Silverstein, Len Sirowitz, Bert Steinhauser, Bill Taubin, Mike Tesch, Rochelle Udell, Massimo Vignelli, Bob Wilvers, Henry Wolf, Lou Dorfsman, Seymour Chwast, Gene Federico, Steve Frankfurt e Amil Gargano.
Não creio que seja necessário dizer quem são esses cavalheiros, mas para quem não sabe, são simplesmente a "propaganda". Se ela existe e hoje proporciona ótimas oportunidades de emprego, de altos salários e de prêmios que os tornam famosos, saibam que isto se deve aos senhores desta lista.
Alguns deles participaram da criação de grandes agências. Também não tenho dúvida de que o atual presidente do júri da Sawa, Frank Lowe, poderia estar nesta lista. Pena que um só é pouco para controlar tantos desconhecidos.
Só nos resta pedir a Deus que nos proteja do ódio que esses novos "yuppies" da propaganda têm pelos mais experientes e que ajude o Frank a ter o mesmo nível, digno e correto do The Art Directors Club of New York...

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