São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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'Vamos competir agressivamente no Brasil'

Folha - O sr. tomou um susto com a crise mexicana?
Bob Martin - Sua rapidez surpreendeu a todos e nos mostrou que temos sempre de estar preparados para enfrentar riscos. É uma boa lição sobre a necessidade de proteger investimentos em países estrangeiros. Em momentos como esse as emoções costumam dirigir as reações. Mas não abalou nossa confiança no México, nem criou a expectativa de que coisas semelhantes poderão ocorrer em outros países da América Latina.
Estamos encorajados a investir nesses países por causa do compromisso com reformas políticas e econômicas e os pacotes de acordos regionais. Trata-se, além disso, da região que tem a maior projeção de crescimento da classe média em todo o mundo.
Folha - Procede a informação de que a Wal-Mart, que já opera 67 lojas no México, suspendeu temporariamente seu plano de expansão de 25 novas lojas nesse país?
Martin - É verdade. Com os desdobramentos da desvalorização da moeda adiamos os planos previstos para 1995. Creio que foi uma decisão inteligente. Estamos envolvidos com investimentos na construção de novas lojas. Mas como a situação está em constante mudança, poderemos inaugurar algumas em breve.
Folha - A crise mexicana trouxe outras consequências?
Bob Martin - A Wal-Mart é uma empresa que se fez com trabalho. Absolutamente não nos aproveitamos de qualquer oportunidade especulativa. Não estamos preocupados, mas atentos. O objetivo é nos instalarmos no Continente com capital produtivo. Sempre pensamos em investimentos de longo prazo.
Folha - Segundo a revista "Fortune", a Wal-Mart programava investir US$ 1 bilhão no México. Qual a cifra reservada para a América Latina?
Martin - Jamais divulgamos uma cifra. Fique claro que esta é uma estimativa da revista. É difícil saber quanto investiremos em determinado tempo na região. Posso assegurar, no entanto, que a América do Sul representa um grande fator.
Por enquanto ainda há espaço para crescermos nos EUA. Mas, com o correr do tempo, esse mercado ficará totalmente saturado. Note bem: no Canadá, EUA e México temos um contingente de 100 milhões de consumidores. Na América do Sul nossas estimativas alcançam 200 milhões. Também estamos seguindo para a China, onde há 1,2 bilhões de consumidores. Programamos a abertura da primeira loja em Shenzen este ano e outra em Xangai, em 1996.
Para a Wal-Mart é muito importante e estratégica a expansão das operações internacionais. Com o desenvolvimento do mercado interno seremos tentados a investir cada vez mais fora dos EUA.
Folha - É reconhecido que a política de preços baixos da Wal-Mart se deve à capacidade de negociação com os fornecedores. O sr. poderia dar um exemplo dos volumes de compras?
Martin - Somos os maiores compradores de produtos eletrônicos, ventiladores, lanternas e artigos de escritório. É importante lembrar que nossos fornecedores são grandes companhias espalhadas por todo o mundo, inclusive no Brasil, onde vem crescendo o fornecimento de toalhas, lençóis, sapatos.Nossa presença no país dará oportunidade a que outras indústrias brasileiras exponham seus produtos e passem a exportar.
Folha - Há limites para o crescimento global?
Martin - Quando fundou a Wal-Mart, cinco décadas atrás, Sam Walton dizia não saber que tamanho a companhia atingiria. Tentamos ser apenas os melhores, não os maiores. Não tendo a visão de quão grandes podemos ser nosso crescimento não terá limites.
Folha - Que conselhos o sr. daria aos concorrentes brasileiros?
Martin - Não estou acostumado a dar conselhos aos concorrentes. Digo apenas que podem esperar que teremos sempre em foco oferecer os melhores preços e serviços aos consumidores. Estamos chegando para coexistir com todos —e competir agressivamente.

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