São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Juízes vivem seus dias de inferno astral

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Neste final de semana, os árbitros estavam, por certo, em seu inferno astral.
Ontem, o juiz não intereferiu diretamente no placar: Corinthians 2, São Paulo 1. Mas, embriagado da síndrome de "otoridade", destroçou o espetáculo. De tal maneira que o jogador Júnior saiu de campo jurando que o juiz estava mesmo era apenas embriagado.
O fato é que expulsou quatro jogadores, dois de cada bando, o que anula qualquer análise tático-técnica da partida. Restou apenas a impressão de que o Corinthians foi mais ágil no contragolpe do que o São Paulo.
Já no sábado, no Parque Antarctica, o Palmeiras venceu o Novo Horizontino por 2 a 1, mas o seu primeiro gol, de Edmundo, estava viciado na origem: ao disputar a bola com o zagueiro Oclébio (terá sido uma interjeição paterna que o escrivão registrou no livro de nascimentos?), Edmundo entrou de sola —jogo perigoso, punível com dois toques, já que não houve o choque com o adversário.
Um pouco mais tarde, nos últimos movimentos do jogo na Vila, o mais escandaloso erro de um juiz neste campeonato: bola alçada na área santista, Edinho, como de hábito, sai mal da meta, choca-se com seu companheiro Giovanni e solta a bola nos pés de Gilmar que fuzila para o gol vazio. Gol legalíssimo, limpíssimo. Pois o juiz resolveu anular. Por fim, à noite, em Mar del Plata, pelos Jogos Pan-Americanos, o meia brasileiro Anderson invade a área hondurenha, encobre o goleiro, com um toquinho, e a bola é rebatida por zagueiro quase um metro dentro do gol. O juiz manda o jogo seguir.
Como consequência desses três erros de arbitragem, o Palmeiras segurou sua vitória sobre o Novo Horizontino; a Lusa perdeu a chance de se isolar no topo da tabela do campeonato paulista, e o Brasil acabou sendo desclassificado no Pan, depois da decisão por pênaltis. Foram, portanto, equívocos que atuaram diretamente sobre os resultados dessas partidas.
Mas, se olharmos para esses resultados partindo do pressuposto de que os fins justificam os meios, chegaremos à conclusão de que se fez justiça.
Afinal, o Palmeiras merecia vencer o Novo Horizontino, pois jogou melhor, criou as maiores chances etc. E, se alguém tinha de marcar gols nesse jogo, ninguém mais do que Edmundo, disparado, o maior jogador da partida.
Quanto a Santos e Portuguesa, foi tal o equilíbrio entre as duas equipes que o placar mais justo seria mesmo o 1 a 1 que acabou prevalecendo.
E, no tocante ao destino do Brasil no Pan, a desclassificação, mais cedo ou mais tarde, era inevitável, fruto da péssima performance cumprida até às quartas-de-final. Eis uma seleçãozinha frustrante, pra dizer o mínimo, que praticou o tal de futebol de resultados, consagrado na Copa do Mundo com o time de Parreira, sem imaginação, tampouco um pingo de ousadia. Foi longe demais.
Contudo, sob a ótica da ética, que deve ser a prevalecente, não é dado a nenhum árbitro do mundo determinar, com seu apito desafinado, o destino de um jogo. Muito menos fazer justiça por linhas tortas.

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