São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Manifestação pela liberdade da Internet

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Você já deve estar cheio de ouvir que a Internet é o futuro. Sabe de uma coisa? É o futuro, sim, e se você não começar a abrir manuais, compre uma vara de pescar e mude-se para a praia. O que, aliás, não é má idéia.
Vivo no Silicon Valley, o que não é grande coisa (pode me convidar para a sua praia, quando você chegar lá) e nem é o Vale dos Travecas, mas o do Silício, onde se instalou a maioria das empresas de pesquisa de informática deste país.
Sim, senhor, estou cercado por aqueles que estão mudando o mundo e é evidente que acabo sendo contaminado pela febre Internet, o que é uma grande coisa.
Tudo é recente, tudo é anárquico, criado por alguns pesquisadores interessados nos bancos de dados de seus colegas, e a coisa foi crescendo, envolvendo as universidades, os centros de pesquisa, os supercomputadores e cá estamos nós, ligados num mundo sem fronteiras, livre, regido por um protocolo, IP, criado pelos próprios usuários.
São os guerrilheiros Chiapas mandando notícias, a esquerda do Peru, a esquerda radical americana, os grupos de interesse do Brasil, Nigéria, Japão etc. A graça é cometer a imprudência de se libertar das megaestruturas que comandam nossas vidas. Estamos fora do alcance das grandes corporações, dos burocratas e dos políticos. É uma nação utópica, onde a liberdade de informações é regra número um.
Pentium é o chip desenvolvido pela Intel —gigante da computação, responsável pela nova geração de computadores, o 586. Uma campanha violenta na mídia convidava-nos a trocar nossos obsoletos 486 pelo futuro. Bastou um professor de matemática colocar, na rede, a mensagem que o Pentium errava nas contas para o mercado se agitar. Hoje, a IBM admite que o chip erra e a Intel veio a público se desculpar. O caso Pentium e o obscuro professor de matemática confirmam o poder e o caráter libertário da rede.
É estranhíssima (e motivo de piada entre os usuários da Internet) a notícia de que o governo brasileiro monopolizou os serviços da rede através de uma estatalzinha de quinta chamada Embratel. O que é isso, um burocrata de Brasília terá o comando da maior rede de informações do mundo? A alma da rede é a sua independência. O sucesso da rede é a sua aparente anarquia. Que discurso é este, de querer privatizar as telecomunicações e controlar a Internet? Não nos mate de vergonha, senhor ministro...

MARCELO RUBENS PAIVA está em San Francisco (EUA) como bolsista da Knight Fellowship, na Universidade de Stanford.

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