São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Tavernier critica os valores da França

ELAINE GUERINI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE DUBLIN

Em "L'Appât", seu último trabalho, o cineasta francês Bertrand Tavernier decidiu retratar o atual "estado de espírito" de seu país.
O filme trata da perda de valores de uma sociedade dominada pela ditadura do dinheiro. O roteiro foi inspirado em um caso real sobre três jovens franceses que, seduzidos pelo sonho de fazer fortuna nos EUA, perdem a noção do bem e do mal e acabam na prisão.

Folha - O que mais chamou a sua atenção nesta história real?
Bertrand Tavernier - Os três jovens são pessoas comuns, sem antecedentes criminais. Eles perderam a noção do bem e do mal, do certo e do errado e saíram da realidade. Logo percebi que seria uma boa oportunidade para fazer um filme alertando sobre a falta de consciência que tomou conta da França.
A nossa sociedade perdeu os seus valores. E quando digo valores, não me refiro ao discurso direitista, mas sim a valores como paixão, engajamento político, militância, sindicalismo e outros.
Folha - Na tela, os três personagens parecem mais vítimas que qualquer outra coisa...
Tavernier - Sei que pode parecer estranho, mas é assim mesmo que os vejo. Na hora de decidir qual seria o melhor jeito de contar esta história, optei por não dissecar os personagens. Quero que o público tenha vontade de entrar na tela para dizer "parem, isto não vai dar certo".
A minha intenção nunca foi questioná-los, mas sim mostrar como eles foram ridículos e ingênuos. Um dos jovens deste caso disse alguns anos depois na prisão que se ele tivesse lido um único livro em sua vida ele jamais teria feito o que fez. E acredito nele.
Folha - Você acha que o cinema francês vai se aproximar dos padrões dos EUA?
Tavernier - Espero que não. No meu caso, por exemplo, a única coisa americana que eu cultivo em meus filmes é a rapidez, a energia. Mas isto também já existia no cinema francês dos anos 30 e 40.
Folha - Você nunca pensou em trabalhar para Hollywood?
Tavernier - Já pensei nisto, mas nunca levei a idéia a sério. O que me deixa frustrado é o fato de precisar enfrentar tantos problemas na hora de conseguir financiamento para os meus filmes.
Sempre tenho que correr riscos. Se o filme dá certo, levo 50% de lucro, mas se dá errado, arco com 50% do prejuízo. Este é o preço que pago por fazer apenas filmes que me agradam.
(EG)

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