São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995
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Improviso dá vida a Indiana

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

A estréia de Indiana Jones, o intrépido arqueólogo, em "Os Caçadores da Arca Perdida" (Globo, 21h40) pode se ombrear com, digamos, "Tubarão"?
Em um aspecto essencial, deve-se convir que houve regresso. "Tubarão" (1974) não foi feito com a mesma obrigação de sucesso e pôde se dar ao luxo de ser um filme com poucos acontecimentos. Não parece, mas aí está o encanto da coisa. O que o filme tem é uma enorme capacidade de atingir o espectador, provocar o medo e, com isso, a tensão que leva o espectador a temer, sempre, por novos ataques do monstro.
Esta é a arte: botar uma barbatana passeando de cá pra lá e suscitar uma forte reação emocional da platéia. A mão do diretor está lá. Tivesse ele afrouxado, perdido um tanto o rigor, e teríamos aí um belo "flop".
Nada disso com "Caçadores". É um filme baseado no acontecimento, na sequência de episódios ao longo dos quais Indiana enfrenta uma série de obstáculos na busca de uma relíquia bíblica.
Tudo funciona bem, e não há como reclamar do resultado. Mas, na memória de todos, um momento se destaca. É quando Indiana tem de enfrentar um árabe vestido a caráter, que maneja com agilidade um facão. O que ele faz? Puxa seu revólver e mata o inimigo na maior.
Comentou-se, na época, que a solução foi um improviso. Em face de dispositivos que não funcionavam, Spielberg teria optado pelo óbvio: um tiro e fim de conversa. O fato é que esse momento se destaca do conjunto do filme. Há nele um frescor, uma invenção que escapam ao planejamento rigoroso, que não vem do cálculo da bilheteria, mas da inspiração. É um instante de puro artesanato infiltrando-se na maquinaria industrial. Se mais coisas tivessem falhado, "Caçadores" seria melhor.
(IA)

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