São Paulo, segunda-feira, 20 de março de 1995 |
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Droga, dólares e depressão O México registrou em fevereiro um superávit na balança comercial de US$ 452 milhões, o primeiro desde novembro de 1990. No acumulado do ano, ainda há um déficit de US$ 78 milhões. Encaminha-se portanto o ajuste mexicano? Longe disso. Há consenso entre os analistas de que, se é muito o já feito, muito resta para fazer. E com dores e reações crescentes. O Congresso mexicano discute, em meio a uma progressiva oposição popular e empresarial, o plano recessivo com que o governo pretende ajustar a economia. Ao contrário do que se esperava, na semana passada o peso fragilizou-se ainda mais mesmo depois de anunciado o austero plano oficial. Mas o problema do México não é de diagnóstico ou de receita. Sofrendo uma brutal desvalorização cambial em três meses, o governo ainda não conseguiu estancar a fuga de dólares do país. E além das naturais reações a um ajuste que promete jogar a economia numa depressão de anos, para dizer o menos, torna-se cada vez mais explícito o emaranhado envolvendo autoridades governamentais e "capos" do narcotráfico. Para complicar um quadro que internamente já é crítico, externamente a ajuda norte-americana ainda enfrenta resistências no Congresso, indisposição dos europeus no FMI e, o que não é pouco, a suspeita global de que o apoio ao México ajuda a enfraquecer o próprio dólar diante de outras moedas. O problema do México é sobretudo político. Há dúvidas sobre a competência e a legitimidade do presidente Ernesto Zedillo para submeter o país a um aperto tão significativo e inesperado. Dúvidas ainda mais prementes quando vem a público o que afinal sempre se soube: acostumado a décadas de hegemonia política e manipulação do Estado, o PRI transformou-se numa estrutura carcomida pela corrupção administrativa e moral. Habituado à impunidade, o partido oficial ultrapassou em muito os limites da legalidade. É difícil imaginar que tal organismo seja capaz de liderar e mobilizar a cidadania para um esforço que sem dúvida custará sangue, suor e lágrimas. Texto Anterior: Caos e transparência Próximo Texto: Avestruzes Índice |
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