São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
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Especialistas têm opiniões diferentes

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas em planejamento familiar ouvidos pela Folha divergem sobre a validade do projeto do governo federal.
Para o presidente da Abepf (Associação Brasileira de Entidades de Planejamento Familiar), Marcos Paulo de Castro, 43, o projeto é "excelente".
"Fiquei sabendo da idéia do governo pela imprensa, mas pelo que pude perceber era exatamente isso que o Brasil estava precisando."
Já Sônia Corrêa, coordenadora do Ibase (Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas), diz que o projeto é "ultrapassado" e que ficou "aquém das expectativas".
"O país precisa de um programa de saúde da mulher mais amplo, que não fique restrito à orientação e distribuição de métodos anticoncepcionais."
Apesar de considerar o projeto incompleto, Sônia elogia a iniciativa do Ministério da Saúde de definir quanto será investido.
"Pela primeira vez em dez anos de debate sobre saúde da mulher, o governo define com clareza quanto de seus recursos será aplicados em planejamento familiar. Isso já é um grande avanço e mostra que, no mínimo, existe vontade política de tratar o assunto."
Margareth Arilha, secretária-executiva da Comissão de Cidadania e Reprodução, concorda com Sônia.
"Não adianta distribuir pílulas se não houver preocupação com o pré-natal, o pós-parto, as doenças sexualmente transmissíveis, Aids, câncer cervical e de mama. Um programa de assistência à saúde da mulher eficaz precisa de tudo isso."
Para Sônia Castro, "se o projeto do governo conseguir treinar e colocar à disposição da população profissionais que as orientem sobre o uso dos anticoncepcionais, já será um grande avanço".
"Mas isso é apenas parte da assistência necessária", diz. Segundo ela, a incidência de câncer cervical, por exemplo, cairia muito se houvesse algum trabalho de prevenção no país.
Para Marcos Castro, o projeto do governo é importante porque, apesar da taxa de natalidade estar caindo, a maioria da população não faz planejamento familiar de maneira consciente.
"A taxa de crescimento populacional está caindo por causa da esterilização feminina em massa e dos abortos clandestinos. Isso não é sinal de evolução nenhuma", diz.
Segundo Sônia Corrêa, 73% das mulheres brasileiras têm acesso a métodos contraceptivos.
"O problema não é falta de acesso a anticoncepcionais, mas inexistência de orientação e de opções."
Para Sônia, a maioria das mulheres continua optando pela esterilização porque não conseguem se adaptar à pílula nem a outros métodos como DIU ou diafragma.(DF)

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