São Paulo, terça-feira, 21 de março de 1995
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BC perto do desfecho

LUÍS NASSIF

Ontem à noite, fonte ligada ao diretor de Relações Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, passou à coluna mensagem cifrada: "Logo mais, a questão estará definitivamente resolvida". Referia-se ao desfecho das desavenças entre Franco e o presidente do BC, Pérsio Arida.
Não deu mais pistas. A fonte fez questão de salientar que as relações entre Franco e Arida são plenamente amistosas, e situam-se especificamente no plano das discussões conceituais —informação que não bate com o que a coluna tem levantado junto a fontes do governo.
A fonte atribui as notícias dando conta da saída de Franco à interpretação maliciosa do almoço que ele teve com o presidente da República na terça-feira passada. Segundo a fonte, Franco teria constatado o enfraquecimento de Arida, pelo fato de terem sido debitados a ele os erros na mudança cambial, e oferecido sua saída como única alternativa de fortalecê-lo. Mas FHC teria recusado, e lhe dito que ele só sairia se fosse para um cargo maior.
A partir daí, segundo essas fontes, teriam sido geradas as informações intra-Palácio, dando conta de sua demissão.
Junto a fontes ligadas a Arida, percebe-se que o clima de animosidade entre ambos já atingiu um ponto de não-retorno. Não se acredita no desprendimento do colega.
O clima entre ambos ficou definitivamente comprometido no próprio lançamento do Real. Considera-se que Arida formulou totalmente o plano. Mas teria sido atropelado por Franco, que foi apresentado por alguns veículos como a verdadeira alma no Real, numa barganha polêmica: Franco teria passado informações de bastidores para compor a matéria, em troca dos elogios à sua atuação.
Definições rápidas
Seja como for, o clima está deteriorado e o mercado aguarda ansioso a definição do presidente da República sobre a questão. Mesmo com todas as declarações em contrário, o mercado sabe que é impossível a convivência entre ambos no BC. Sabe que Franco é a parte mais fraca da corda. Mas teme duas coisas:
1) Que seja substituído por acadêmicos, sem noção de operação cambial —o que seria temerário.
2) Que, com sua saída, haja um ajuste brusco do câmbio —o que é improvável.
Essa indefinição começa a gerar expectativa perigosa no mercado. Ontem o câmbio saiu da linha do meio, definida pelo Banco Central, sem que houvesse reação. O BC está imobilizado.
A indefinição em relação ao desfecho do jogo faz com que os exportadores comecem a suspender o fechamento de contratos de exportação, reduzindo a oferta de dólares no mercado. Os profissionais sabem que um ajuste brusco no câmbio é improvável. Mas, se os exportadores prenderem a respiração por muito tempo, cumpre-se a chamada profecia auto-realizada.
O governo necessita, de qualquer maneira, romper com essa bolha de desconfiança. E só há duas maneiras: ou dando provas inequívocas de que Franco fica ou decidindo de vez que ele sai. A única alternativa proibida é a indefinição sobre seu destino.

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