São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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Arida sofre nova denúncia de vazamento de informação

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Banco Central, Pérsio Arida, enfrentará hoje na Câmara dos Deputados uma nova denúncia envolvendo as operações do mercado de dólar durante a implantação da nova política cambial, há duas semanas.
Ontem, o senador José Eduardo Dutra (PT-SE) disse ter dados do Banco Central indicando que três bancos —o BBA-Creditanstalt, o Pactual e o ING— fizeram operações atípicas no mercado de dólar e obtiveram melhores resultados que as demais instituições.
Pelos números apresentados por Dutra, o BBA acumulou dólares antes do lançamento da nova política cambial, que valorizou a moeda norte-americana. O banco tinha US$ 34 mil em carteira em 20 de fevereiro, e US$ 182 milhões no dia de 3 de março —último dia útil antes da desvalorização.
"O BBA foi o mais agressivo do mercado no período, seguido pelo Pactual e pelo ING", disse Dutra. O BBA é controlado por Fernão Bracher, ex-presidente do BC e amigo pessoal de Arida. Os dois foram sócios da HE Participações, que formou o BBA em 1988.
Os dados agitaram a Câmara ontem, e em especial a bancada do PT, que pretende ser rígida com Arida. Anteontem, o presidente do BC enfrentou uma sabatina tranquila no Senado.

Delfim
O deputado Delfim Netto (PPR-SP), o primeiro a levantar denúncias sobre vazamento de informações privilegiadas ao mercado, disse que comparecerá ao depoimento de Arida para fazer "duas ou três perguntinhas".
Delfim afirmou acreditar na lisura de Arida, mas disse que "lucraram os bancos que entenderam os comunicados do BC, que só foram traduzidos para o português depois".
"Queremos saber porque o banco Safra foi descredenciado pelo BC", disse o deputado José Fortunatti (PT-RS).
Além das denúncias de Dutra, contribui para o acirramento dos ânimos a ausência de Arida na sabatina marcada para a semana passada, na Câmara.

Bamerindus
O ministro da Agricultura e dono do banco Bamerindus, José Eduardo Andrade Vieira, disse que a instituição está tendo prejuízo com a mudança no câmbio.
Anteontem, o senador Osmar Dias (PP-PR) afirmou que o Bamerindus teria usado informações privilegiadas em relação à desvalorização do real, um dos pontos da nova política cambial.
Dias considerou suspeita uma proposta feita pelo Bamerindus aos seus clientes do setor agrícola no dia 15 de fevereiro —às vésperas da desvalorização do real— sugerindo a troca das dívidas indexadas à TR por uma correção através da cotação do dólar.
Com a valorização do dólar, os agricultores que aceitaram a proposta tiveram suas dívidas aumentadas proporcionalmente.
Ontem, o ministro da Agricultura disse que a criação da nova alternativa de dívida em dólar já estava decidida desde janeiro.
Após ouvir as acusações de Osmar Dias, Pérsio Arida disse que o Bamerindus não lucraria convencendo os produtores a passarem a dever em dólar, pois a valorização da moeda estrangeira aumenta também o valor da dívida do banco com os credores estrangeiros.

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