São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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Não basta coragem

CARLOS SARLI

Com 14 mil saltos e títulos mundiais na bagagem, o pára-quedista Tom Piras (EUA) não escapou de um acidente no Panamá enquanto instruía uma equipe.
Ocorrido há mais de um ano, tudo poderia não ter passado de um susto caso Tom não esquecesse de acionar seu disparador automático antes de entrar no avião.
Em queda livre, um aluno acidentalmente abriu seu pára-quedas. Tom, que o seguia de perto, bateu a cabeça no seu joelho e desacordou para sempre.
O pára-quedismo é um dos esportes "outdoors" (que combinam atividade física e contato com a natureza) que mais se desenvolveu ultimamente. O número de praticantes só não é maior devido ao alto custo do equipamento, do curso para se iniciar no esporte e também pelo medo.
Mariana Siveiro, 16, fez seu 21º e último salto no domingo retrasado em Boituva. A sua pequena experiência no ar, associada ao fato de estar de equipamento novo sem o consentimento do seu instrutor, deve ter sido o fator determinante de seu acidente fatal.
Minutos depois da tragédia, um praticante dos mais atirados incitava as pessoas a abandonar o esporte. Mais tarde, a razão dominou a emoção e algumas medidas de controle e segurança começaram a ser tomadas.
De concreto, o número mínimo de saltos com o DAA (Disparador de Abertura Automático) subiu de 16 para 130. No prazo de 180 dias, ficará proibida a utilização de pára-quedas redondo, que não oferece dirigibilidade alguma. Para mudança de equipamento será exigido um mínimo de duas horas de briefing no chão.
Para os mais tarimbados também haverá uma exigência. Quem salta com equipamento de alta performance deverá obedecer uma tabela de relação peso/área do pára-quedas/nº de saltos. Cameraman não poderá mais carregar equipamento fotográfico na mão, e serão exigidos altímetro sonoro, disparador automático de um mínimo de 200 saltos. Para os adeptos do skysurfe também haverá sérias restrições.
Nenhum esporte é absolutamente seguro, e é justamente a dose de risco que envolve os esportes que abordamos na coluna que os torna mais atraentes. Mas infelizmente é preciso acontecer um acidente para que medidas sejam tomadas. É fundamental que a Confederação Brasileira de Pára-quedismo seja rigorosa na aplicação das mudanças, embora o mais lógico é que cada um seja seu próprio fiscal.

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