São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 1995
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A centralidade do Banco Central

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO — Durante algum tempo, Eloy foi personagem discutido, questionado, louvado e esculhambado por vários e contraditórios motivos. Fez época no Posto 2 e adjacências não por méritos próprios, mas pelo furor uterino de sua consorte, uma loura oxigenada que dava sopa ali em frente ao Copacabana Palace.
Foi ela, por sinal, que me deu motivo para ouvir, pela primeira vez, a expressão "galinha" aplicada àquele tipo de mulher que Machado de Assis chamaria de "patusca". Nelson Rodrigues conheceu os dois, marido e mulher. E parece que neles se inspirou para criar aquele personagem que andava pelas retretas e velórios proclamando a castidade da mãe de seus filhos.
O mais gozado é que, antes de louvar as virtudes da companheira, Eloy fazia a pergunta universal e enigmática: "Galinha? Nunca e jamais!"
Não sei por que, lembrei-me dele quando vi na TV o presidente da República proclamar em tenso desabafo a honestidade do presidente do Banco Central. Quem acusou formalmente o sr. Arida de improbidade? Até agora, ninguém. Dirigindo o Banco Central, nada demais que ele compreenda a centralidade do banco ao pé da letra: um banco que centraliza os interesses dos outros bancos, principalmente dos mais amigos.
Diga-se, a bem da honestidade do sr. Arida, que este conceito não é exclusividade sua. Há muito o Banco Central não centraliza o interesse nacional. Os governadores Mário Covas e Marcello Alencar estão sentindo na própria pele as consequências dessa estranha semântica bancária.
Todas as operações do Banespa e do Banerj, hoje julgadas ruinosas ao erário público, tiveram a bênção ativa ou passiva da centralidade do Banco Central, cujos presidentes, tal como o sr. Arida, são varões acima de qualquer suspeita.
Foi consolador ver o presidente da República proclamar em candentes palavras a honestidade do homem que ele nomeou para centralizar nossa pecúnia. Fica por conta de um delírio do cronista a enevoada lembrança do Eloy berrando pelas esquinas do Posto 2: "Galinha? Nunca e jamais!"

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