São Paulo, sábado, 25 de março de 1995
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Juro alto aumenta valor da dívida pública

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A equipe do ministro Pedro Malan (Fazenda) está às voltas com um dilema: os economistas acham que é necessário manter os juros altos pelo menos até o final deste semestre, mas não sabem como atenuar os efeitos desta política sobre o déficit das contas públicas.
Segundo previsões do Banco Central, a inflação tende a subir nos próximos três meses. Sem uma política de juros altos —que estimula a poupança e inibe o consumo ao tornar o crediário mais alto—, avalia-se que ela poderia chegar aos 4% mensais até junho.
O mais complicado é que, no BC, se considera ainda modestos os efeitos da atual política monetária no controle da inflação. O presidente do BC, Pérsio Arida, já determinou o estudo de novas medidas para reduzir o volume de dinheiro na economia.

Compulsórios
A idéia é aperfeiçoar o sistema de recolhimentos compulsórios de recursos bancários ao BC. Os compulsórios deverão passar a seguir um percentual único, de forma a elevar o recolhimento. Isso fará os juros subirem mais.
A alta das taxas também visa a conter o crescimento da economia, que tem elevado o nível de importações. O governo quer conter a perda das reservas em dólar.
O responsável pelas previsões no BC, o diretor de Política Econômica, Franciso Lopes, avisou a Arida que, no atual ritmo, a economia brasileira poderá crescer 7% anuais. O governo quer o crescimento, mas menor.
Mas há efeitos colaterais: só a subida das taxas promovida na semana retrasada já fez os técnicos do BC reverem as previsões para o déficit público em 1995. Pelos cálculos iniciais, o resultado negativo ficaria próximo a R$ 10 bilhões.
Quanto mais altos os juros, mais cresce o volume da dívida mobiliária —em títulos— do governo federal, que hoje é de R$ 65 bilhões. As despesas com os juros desta dívida são contabilizadas no déficit do governo.
Segundo números apresentados pela deputada Maria da Conceição Tavares (PT-RJ), a recente elevação dos juros poderá gerar um gasto adicional de R$ 3,2 bilhões com os juros da dívida. Consultados, técnicos do BC consideram a projeção factível.
Na prática, ao conter a inflação no curto prazo com a taxa de juros, o governo pode acabar estimulando a inflação mais adiante, com o agravamento do déficit público.

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