São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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'Não sabemos explicar o Sol'

STEVEN WEINBERG

Sabemos muitas coisas. Sabemos responder à maioria das questões que uma criança inteligente poderia fazer, tais como por que a grama é verde ou por que o fogo é quente.
Nossas respostas fundamentam-se em princípios universalmente aplicáveis, como as leis da química e da termodinâmica.
No nível mais fundamental que pudemos atingir nessa busca de explicações, encontra-se uma teoria universal razoavelmente simples conhecida como modelo padrão de partículas elementares, assim como a teoria da gravidade de Einstein, conhecida como teoria da relatividade geral.
Tanto quanto se possa dizer, não existe em biologia ou química um princípio universal que se baste inteiramente, sem permitir ou necessitar de uma explicação que repouse sobre princípios fundamentais.
O modelo padrão põe em jogo várias dezenas de espécies de campos, como os campos elétricos. Por que somente esses campos?
Para a maioria, a ciência visa explicar os fenômenos num nível mais elevado, tentando responder a questões importantes como será possível haver supercondutividade a alta temperatura, ou como funciona a inteligência, graças aos princípios científicos já conhecidos.
Mas as respostas a essas questões estarão fundamentadas sobre os princípios universais, e seremos inevitavelmente conduzidos em direção a essas leis últimas da natureza, que sustentam o modelo padrão e a relatividade geral.
As leis de Newton nos dizem a que velocidade os planetas giram em torno do Sol, mas não podem nos dizer quantos planetas há, nem o tamanho de sua órbita — são questões que dependem dos acidentes históricos na formação do Sistema Solar e do Universo.
Não saberemos nunca por que um meteoro, ou um cometa, colidiu com a Terra como aconteceu há 60 milhões de anos, fazendo desaparecer os dinossauros. Mas como prova o mercado de seguros, até os acidentes podem ser compreendidos estatisticamente.
Se não estamos em condições de explicar todos os detalhes da história de nosso próprio Sol e de nosso próprio Sistema Solar, podemos explicar as propriedades médias de milhões de estrelas. Essas explicações repousam não só sobre os princípios da física, mas também sobre hipóteses referentes à natureza do Universo antes do nascimento das estrelas.

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