São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Estoques ditam preços

DA AGÊNCIA SAFRAS

A colheita da soja em abril e maio, a liberação de recursos de EGF e a compra de grão dos pequenos produtores pode provocar reação nas cotações do milho nas próximas semanas.
Entretanto, os preços aos produtores só devem alcançar o preço mínimo (R$ 6,32/saca) no final da safra, em junho.
Entre 8 milhões e 9 milhões de t devem passar para os estoques do governo nas formas de equivalência-produto e EGF, tornando-se um fator de pressão baixista dos preços, especialmente na entressafra.
A eficácia da determinação do governo de que as importações sejam pagas à vista e o comportamento dos preços no mercado externo podem contrabalançar a ação do governo no segundo semestre.
Um dos principais problemas desta safra é a armazenagem. Além do produto colhido, há mais de 1,5 milhão de t da Conab, fora os EGFs vencidos.
Com a expectativa sugerida pelo "El Ni¤o", de clima mais seco no verão norte-americano, a tendência natural é de contenção nas vendas de soja da safra brasileira, mantendo os armazéns lotados.
A alternativa imediata do mercado é colher o milho rapidamente e comercializá-lo nesse mesmo ritmo.
O efeito desta alternativa é uma brutal baixa de preços, a exemplo do que se nota na região Centro-Sul.
Para amenizar o problema, o Ministério da Agricultura anunciou que o governo vai comprar pelo preço mínimo até 150 sacas dos pequenos produtores.
Além de diminuir os prejuízos dos agricultores, a medida tem como objetivo enxugar o mercado do grão em cerca de 2 milhões de t.
O governo espera que a compra do produto contribua para a sustentação das cotações.
A absorção do milho em equivalência-produto será inevitável, sugerindo a manutenção do produto estocado até o segundo semestre, quando começarão as vendas oficiais.
Pelo lado do consumidor, até esse mês o mercado é vendedor.
Mas a tendência é de que a colheita de milho pare em algumas regiões por causa do pico de safra da soja, nos meses de abril e maio, e dos problemas na armazenagem. O restante da colheita do milho ficaria para junho.
Desta forma, o mercado poderá apresentar alguma sustentação no período entre abril e junho em várias regiões.
Daí em diante, passarão a determinar o mercado fatores como os preços na Argentina, o desenvolvimento das lavouras da safrinha e o câmbio.
O mercado poderá voltar a trabalhar na casa entre R$ 6 e 6,50/saca em junho e julho, que equivaleria a US$ 7,50 em média, já possibilitando importações caso os preços na Argentina sigam a tendência baixista.
A partir de julho, o mercado será definido pelo volume de produto indexado ao EGF e pela quantidade absorvida pelo governo em forma de equivalência, além da safrinha.
O mercado acostumou-se mal com a modalidade de vendas do governo no segundo semestre de 94.
Os leilões oficiais foram marcados por preços baixos e volumes elevados na desova de estoques da Conab e altos subsídios nas vendas de EGF do Banco do Brasil.
O mercado tende a aguardar a mesma prática na entressafra. Se as cooperativas optarem por renovar o custeio em forma de EGF, aproveitando a manutenção do capital de giro, é muito provável que o mercado apresente suporte para a alta de preços.
Nesse ponto, a colheita nos EUA e os preços internacionais pesarão na definição das importações, determinando o fluxo de comercialização interno.
Com o programa do governo dos EUA de redução de área plantada, a tendência de é de que uma área de 1 milhão de acres passe para a soja.
As especulações sobre o clima no Meio-Oeste dos EUA, principal área de milho e soja, devem ganhar importância ao longo das próximas semanas.
O excesso de chuvas na América do Sul pode causar um clima mais seco e quente na América do Norte no período entre julho e setembro.
A princípio, a média de preços nesse primeiro semestre deve ficar entre US$ 90 e US$ 100/t no mercado externo.
Uma quebra de safra nos EUA poderá proporcionar um suporte extra para a alta dos preços internos.
O consumo é uma variável que poderá fortalecer o mercado no segundo semestre. Safras & Mercado estima um consumo este ano de 32,1 milhões de t e produção de 30,9 milhões de t.

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