São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Falta dinheiro para safra

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A política agrícola dessa safra está funcionando contra o próprio governo, com efeitos desastrosos sobre a renda de parte dos agricultores.
Falta de recursos, reversão do quadro econômico favorável ao país no exterior e elevação dos juros internos minaram as opções desenhadas para garantir fontes extras de recursos para o financiamento da safra.
"É inegável que há dificuldade de os bancos brasileiros captarem dinheiro no exterior desde que estourou a crise cambial do México", diz Osias Costa, diretor de crédito rural da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
O chamado custo Brasil aumentou, elevando as taxas anuais de juros para a captação de recursos no exterior de 15% no máximo, até o início do ano, para entre 18% e 22%.
O secretário de política agrícola, Guilherme Leite da Silva Dias, projetava até fevereiro a possibilidade de captar R$ 1,3 bilhão, do total de quase R$ 2 bilhões necessários para financiar os produtores que não fizeram equivalência.
Agora, Dias se dá por contente caso os bancos tragam R$ 1 bilhão.
Para conter a especulação com dólar e reduzir o consumo, o governo elevou os juros, com reflexos diretos na TR, para sustentar o Real 2.
Isto aumentou a ira dos produtores e reforçou seus argumentos de que a taxa eleva o custo dos financiamentos a níveis insuportáveis.
A alta dos juros internos também desestimula a indústria a carregar estoques, provocando a permanência da safra por mais tempo nas mãos dos vendedores (agricultores e cooperativas).
Guilherme Dias prevê que este será um ano difícil para o produtor.
"A indústria está fazendo o jogo clássico de deixar o produtor desesperado para vender em anos de safra longa", diz Dias.
Amilcar Gramacho, coordenador do departamento econômico da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), diz que o governo criou duas classes de produtores.
"Está acontecendo uma discriminação brutal entre a pequena parcela de produtores que conseguiu o crédito em equivalência-produto e os outros 70% que bancaram a safra com recursos próprios", afirma.
No próprio Ministério da Agricultura, os técnicos admitem que se as medidas tomadas nas últimas semanas conseguirem puxar as cotações agrícolas para o preço mínimo, pelo menos, o governo já poderá se considerar vitorioso.

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