São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Preço de mercado é menor que o mínimo

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os produtores de milho e arroz estão deixando de embolsar nesta safra cerca de R$ 1,3 bilhão, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que reúne 27 mil federações do setor rural.
O cálculo da CNA é a diferença entre o preço mínimo e a cotação de mercado.
O preço mínimo é a remuneração garantida pelo governo para quem pede financiamento junto ao sistema de crédito rural oficial.
Hoje o preço mínimo supera o de mercado para esses produtos.
No caso do milho, o preço mínimo chega a ser 40% maior do que o de mercado, dependendo da região. Para o arroz irrigado, a diferença é de 18%.
Como o dinheiro oficial para a compra da safra pelo preço mínimo não chega aos bancos em volume suficiente, o produtor menos capitalizado, que tem de pagar o financiamento, tem que vender a safra pelo preço de mercado.
Segundo Antonio Donizete Beraldo, economista da CNA, apenas 17% da produção (13,8 milhões de toneladas) têm a venda garantida pelo preço mínimo, congelado desde julho de 1994.
Para a maioria dos agricultores, no entanto, que respondem por 83% da safra, diz ele, a receita está ao sabor do preços de mercado. São os agricultores que levantaram recursos junto ao governo fora dos sistema de equivalência de produto e têm a dívida corrigida pela TR (Taxa Referencial), mais juros de até 11% ao mês.
Além do descasamento entre a correção da dívida e dos preços, a situação piorou para esses agricultores neste mês. "É que ao mexer no câmbio, o governo aumentou as taxas de juros que servem de base de cálculo para TR. Isso encareceu ainda mais os empréstimos e aumentou a distância entre a receita e o custo", diz Amilcar Gramacho, economista da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil).
Só de julho de 1994 a fevereiro, por exemplo, a dívida do agricultor de milho aumentou 44,19% e o preço de mercado caiu 21,43%.
Segundo o economista Fernando Homem de Melo, da Universidade de São Paulo, o produtor não tem condições de repassar esse aumento do custo para o preço porque a oferta é abundante. Também há a concorrência dos grãos importados, que têm alíquotas reduzidas.
Por causa das dificuldades na comercialização, diz Beraldo, o governo tem armada uma bomba de efeito retardado para a próxima safra. Na opinião de Homem de Melo, o reflexo pode ser a redução da área de plantio, se a situação não for corrigida.(MCh)

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