São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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França considera intervenção no Burundi

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A França disse ontem que pode intervir no Burundi se houver acirramento do conflito étnico entre tutsis e hutus (majoritários).
Ataques com granadas e armas leves a um campo de refugiados ruandeses em Ngozi (norte do país) deixaram ontem 12 mortos e 20 feridos. A rádio estatal relatou mais três mortes em ataque de gangues armadas à cidade de Gitega (centro do país).
O presidente do Burundi, o hutu Sylvestre Ntibantunganya, denunciou o início de um genocídio no país, com pelo menos 150 mortos nos últimos quatro dias por gangues de jovens tutsis.
Testemunhas afirmam que o número de mortos chega a 500 e que cerca de 50 mil pessoas estão fugindo do país.
"Não é impossível que alguma ação seja considerada se a situação piorar", disse o ministro da Cooperação da França, Bernard Debré. Mas, segundo ele, não deve haver uma missão francesa unilateral, como a de 2.500 soldados que foi para Ruanda no ano passado.
"Ainda não estamos no nível do genocídio", disse o ministro, que visitou na semana passada o Burundi. "Antes de enviar tropas é preciso promover o diálogo".
Uma reunião do Conselho de Segurança da ONU marcada para ontem em Nova York tinha na pauta a crise na república africana.
O primeiro-ministro da França, Edouard Balladur, pediu a Debré que retorne ao Burundi e disse que pediria apoio da ONU aos esforços da União Européia para promover negociações para o conflito.
Ministros da UE afirmaram este mês que enviariam auxílio material e uma missão de direitos humanos ao Burundi, para organizar um "debate nacional" que encorajasse a reconciliação.
Cerca de 2.000 pessoas cruzaram ontem a fronteira do Burundi com o Zaire. O Alto Comissariado para Refugiados da ONU (Acnur) informou que já houve êxodo de pelo menos 23.500.
O governo do Zaire revelou que pelo menos 200 cidadãos de seu país morreram em virtude dos choques na república vizinha.
Conflitos entre tutsis e hutus mataram pelo menos 500 mil pessoas ano passado em Ruanda, país vizinho do Burundi.
Fazendeiros do Burundi esperavam colher uma safra de café 50% maior este ano. Mas o êxodo do país pode fazer com que falte de mão-de-obra para isso.

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