São Paulo, terça-feira, 28 de março de 1995
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Lobby do eu sozinho

No caderno Tempo de Reformas, publicado ontem por esta Folha, o deputado Raul Belém (PP-MG) ficou lamentavelmente perto da verdade ao afirmar que "cada parlamentar é um partido".
Já seria um desastre se, de fato, cada parlamentar fosse um partido. O Congresso seria, nessa hipótese, constituído de 594 partidos, que é o número total de parlamentares. Não há governabilidade possível, como é óbvio, com 594 partidos.
Mas, se fossem de fatos partidos, o que pressupõe ao menos teoricamente um conjunto de idéias coerentes, ainda seria possível discutir os temas essenciais.
O fato, porém, é que cada parlamentar é na verdade um lobby, um poderoso lobby, claro que com as exceções de praxe. Há no Congresso lobbies de todo tipo: das estatais, do setor rural, dos exportadores, dos importadores e, o mais daninho deles, o do interesse próprio.
O debate acaba sendo em torno do que cada um perde ou ganha com cada alteração na Carta, em vez de ser, como deveria, em torno do que o país ganha ou perde.
Uma das consequências dessa situação é a impossibilidade prática de determinar quantos parlamentares são de fato a favor ou contra as reformas do governo. A pesquisa publicada pelo caderno indica que elas serão aprovadas. Mas idêntico resultado se obteve anteriormente e viu-se no que deu a revisão constitucional encerrada no ano passado.
Como se o quadro político-partidário já não fosse bastante negativo, corre-se o risco de ver a confusão aumentar, dado que o TSE está para ceder o registro definitivo a um lote de pequenos partidos, se é que merecem o nome de partidos.
Por tudo isso, esta Folha tem defendido com insistência a necessidade de que as reformas políticas tenham tanta prioridade quanto as reformas na ordem econômica, na Previdência Social etc.
Se não ocorrer uma profunda mudança na legislação partidária e eleitoral, todas as demais sempre acabarão rodando em falso, discutidas que são pelos lobbies e não por partidos de verdade.

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