São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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Cidade da guerrilha gasta R$ 150 mil e não vê FHC

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 12/05/95
A desistência do presidente Fernando Henrique Cardoso de visitar Conceição do Araguaia (PA) amanhã frustrou o prefeito Carlos Cavalcante, que havia feito uma verdadeira "revolução" na cidade para recebê-lo.
O município, localizado a cerca de 980 quilômetros de Bélem, fica às margens do rio Araguaia.
A região se tornou famosa no início dos anos 70 por ser o palco da "guerrilha do Araguaia" —grupo armado de esquerda que lutou contra o regime militar.
O prefeito, que é filiado ao PMDB, gastou cerca de R$ 150 mil nos preparativos para a recepção do presidente. O valor equivale a 45% de toda a arrecadação mensal do município de cerca de 135 mil habitantes.
Cavalcante reformou o aeroporto e a Câmara dos Vereadores e restaurou as ruas e pontes por onde FHC passaria. Também mandou pintar os edifícios públicos e já tinha pronta uma placa comemorativa da visita, que seria descerrada por FHC.
A desistência deixou o prefeito furioso. "Enganaram todo mundo", disse ontem Cavalcante à Folha por telefone. "Nem me comunicaram do cancelamento, eu soube por amigos meus de Brasília", completou.
"Gastei dinheiro que não podia gastar, toda a população estava em clima de expectativa e agora sou eu que arco com o desgaste moral."
O pior, para o prefeito, foi o presidente ter trocado Conceição do Araguia por Carajás —cidade que também se localiza no Pará e que foi construída pela estatal Vale do Rio Doce para dar abrigo aos funcionários de mineração do "Projeto Carajás".
"Lá é uma cidade construída, que não tem povo", afirmou Cavalcante. "Em Carajás não tem problema de água, de esgoto, de desenvolvimento, problemas que existem em todas as cidades da região amazônica."
Funcionários do Planalto responsáveis pela viagem vetaram Conceição do Araguaia por considerar que a cidade não tem infra-estrutura para receber o presidente e os nove governadores que o acompanharão.

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