São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 1995
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Um top model no corredor polonês

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Adulado por todos os lados, o presidente Fernando Henrique Cardoso entrou no governo com a altivez de um top model internacional. Vislumbrava uma passarela rodeada de aplausos. Mas descobriu que a passarela era, na verdade, um corredor polonês.
Nada mais exemplar dessa incômoda metamorfose do que a decisão anunciada pelo governo: desacelerar a tramitação da emenda que altera o sistema de aposentadorias. Uma emenda considerada vital pelo presidente.
Tiveram medo de levar uma surra no Congresso, impressionado com a reação dos eleitores, o que talvez contaminasse o resto da reforma constitucional. Optou-se, agora, por um rolo compressor publicitário para amenizar resistências.
No seu complexo de top model, o governo imaginava que um pretenso charme irresistível derrubaria "direita carcomida" ou a "falsa esquerda". Nem precisaria abrir a boca. Uma sensual piscadela seria suficiente.
Descobriu que, mais grave do que "a falsa esquerda", são os, digamos, "falsos aliados". O problema do governo é, essencialmente, o próprio governo que, apesar de recheado de tarimbados professores, não consegue se comunicar nem ser didático.
A lição do caso da Previdência é simples. Cada votação vai ser uma guerra com dois fronts, envolvendo a opinião pública e o Congresso.
É necessário, portanto, municiar todos os dias a opinião pública com informações. Bobagem imaginar que lá estão dóceis cidadãos que fizeram Fernando Henrique presidente no primeiro turno. E, ao mesmo tempo, negociar com cada parlamentar.
Fora disso, a "passarela" sempre será corredor polonês.
PS — Por falar em opinião pública, uma informação relevante começou a ser coletada esta semana. Iniciaram-se em várias partes do país inspeções em laboratórios que produzem remédios. O secretário de Vigilância Sanitária, Elisaldo Carlini, disse ontem a esta coluna que todos os dados vão ficar à disposição para se saber quem está produzindo remédio ou veneno.

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