São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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FHC vai a Carajás sob proteção do Exército

ANDRÉ MUGGIATI; WILLIAM FRANÇA; CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O presidente Fernando Henrique Cardoso inicia hoje sua visita à Amazônia sob protestos. Para evitar manifestações, a segurança do presidente está contando com a ajuda do Exército.
A cidade administrada pela Vale do Rio Doce visitará esta manhã, em Paraupebas (PA), foi ocupada desde ontem por homens do Exército. FHC vai se encontrar com nove governadores da região amazônica no local.
A Vale do Rio Doce cancelou a realização de um encontro de formação sindical no Doce Norte, clube dos trabalhadores da Vale do Rio Doce, porque cedeu o lugar aos soldados do Exército.
Um plebiscito realizado pelo o Metalbase, Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos, apontou que 85% dos trabalhadores são contra as reformas estruturais na Constituição, da maneira como FHC quer realizar e contra a visita dele à região. Votaram 805 operários de um total de cerca de 1.300, segundo o sindicato.
A Companhia Vale do Rio Doce, estatal que controla uma área de 1,2 milhão de hectares e administra a vila urbana onde acontecerá o encontro (620 km ao sul de Belém), não vai autorizar a entrada de manifestantes "desconhecidos" no local.
"Aqui não é campo de concentração, mas é uma área privada. Tem que ter autorização de alguém para entrar", disse à Folha o responsável pelo núcleo urbano, Marco Túlio Ferreira.
"Se for gente conhecida, autorizamos. Se não, fica de fora", completou.
A CUT planeja para hoje um protesto na entrada da cidade administrada pela Vale, a cerca de 40 km de distância do local onde FHC vai se reunir com os governadores da região amazônica.
Segundo o diretor da CUT, Hamilton Correia, um ônibus com 40 sindicalistas partiu ontem à tarde de Belém rumo a Paraupebas.
Repúdio
A Assembléia Legislativa do Pará aprovou ontem à tarde uma nota de repúdio à visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao projeto Carajás.
A nota foi assinada por todos os presentes (35 dos 41 deputados), inclusive pelos parlamentares tucanos, Lurdes Lima e Martinho Carmona, líder do PSDB.
O texto diz que FHC "desrespeita o povo paraense quando deixa de conhecer uma cidade representativa do sul do Estado (Conceição do Araguaia) para ficar isolado nas instalações da Companhia Vale do Rio Doce".
A Assembléia iria se instalar hoje em Conceição do Araguaia (onde ocorreria o encontro com os governadores) para que os deputados pudessem reivindicar ao presidente FHC a instalação da nova refinaria da Petrobrás no Pará e também protestar contra o corte de verbas do Orçamento da União para o Estado.
Carajás
A área do projeto Carajás é isolada por uma tela de cinco metros de altura, com nove km de extensão, e só tem duas entradas.
Construído pela Vale há sete anos, o núcleo mais parece um condomínio fechado do que uma cidade encravada no meio da Amazônia. Tem quase 7.000 habitantes e toda infra-estrutura urbana necessária.
Há faixas exclusivas para ciclistas, a velocidade é controlada e o uso do cinto obrigatório. Só há policiais para controlar o trânsito e não há ocorrências policiais. Além disso, os postes são enfeitados com vasos de flores e não se vê sujeira nas ruas.

Colaboraram WILLIAM FRANÇA, enviado especial a Carajás, e CRIS GUTKOSKI, da Agência Folha, em Paraupebas

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