São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Tortura causou rebelião, dizem detentos

DO ENVIADO ESPECIAL

Tortura causou rebelião, dizem detentos
Os detentos José Eduardo Moura Silva, 35, e Élcio Carlos Arcanjo, 28, o "Macalé", afirmaram que a tortura de presos por agentes penitenciários foi a principal causa da rebelião na Penitenciária 1 de Tremembé.
O secretário da Justiça, Belisário dos Santos Junior, 46, disse que as acusações dos presos sobre tortura no presídio serão investigadas através de uma sindicância da secretaria e outra do Judiciário.
Silva e Macalé lideraram o movimento com dois outros presos. Eles foram transferidos para a Penitenciária de Franco da Rocha (Grande São Paulo). "Queremos ficar perto da família", disseram.
Macalé entregou para os jornalistas um conjunto de porretes e cassetetes que seriam usados pelos agentes para espancar detentos. Em dos cassetetes de madeira estava escrito "amansa zica (causador de confusão)" e "quebra ladrão".
Os cassetetes eram bem torneados, o que indicaria que não foram feitos pelos presos durante a rebelião. "É um absurdo. Esses aparelhos, aparentemente, não foram confeccionados aqui dentro", afirmou Santos Júnior.
Macalé disse que vários de seus companheiros já foram espancados na penitenciária. Ele está preso desde 1984 e condenado a 18 anos de prisão por roubo e homícidio. Macalé é portador do vírus HIV. Silva foi preso em 1980 sob a acusação de roubo e homicídio. Condenado a 50 anos de prisão, ele já cumpriu 15.
"Aqui tinha muito espancamento, como na Casa de Custódia de Taubaté", disse Silva, que já passou quatro anos no anexo de segurança máxima em Taubaté. Motivo: "Matei um preso".
Ele estava na penitenciária de Araraquara (SP) e foi transferido para Tremembé há seis meses.
"Tem uma sala perto da diretoria que os agentes, bêbados, usam para espancar presos", disse o detentos Eduardo Soares, 24. Soares foi transferido ontem para a Casa de Detenção de São Vicente.
Covas
O governador Mário Covas disse ontem que as 14 rebeliões em presídios no seu governo estão servindo como um "teste de negociação". Para Covas, as rebeliões sucessivas não estão acontecendo por falta de pulso do governo.
"Em todas as oportunidades não cometemos violências. Nós resolvemos os problemas sem deixar cicatrizes. Isso não é fácil, se deve à consistência dos secretários da Justiça e Segurança. Em todos os episódios negociamos de maneira exaustiva e não cedemos em questões importantes. A virtude não está na violência", afirmou.
Sobre as denúncias de tortura contra presos, o governador prometeu apuração dos casos.

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