São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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"Evangelium Vitae"

"Evangelium Vitae"
A encíclica

A encíclica "Evangelium Vitae" publicada ontem pelo papa João Paulo 2º tem aspectos positivos e negativos. É sem dúvida um passo correto, talvez até um pouco tímido, o fato de a Igreja ter resolvido avançar um pouco mais na condenação da pena de morte, admitindo-a agora em casos extremamente raros em que não haja outra forma de preservar a sociedade.
Para quem até alguns séculos não só não condenava a pena capital como dela se utilizava largamente, trata-se de um grande avanço.
Permanece, contudo, aberta a possibilidade de Roma considerar o homicídio legítimo, ainda que em circunstâncias muito especiais. Nesse sentido, soam estranhas as veementes condenações ao aborto e à eutanásia que estão no documento.
Que o papa recomende aos fiéis que não utilizem métodos abortivos, não usem contraceptivos e enfrentem as doenças terminais mais dolorosas com estoicismo é um problema interno da Igreja. Mas quando o bispo de Roma ameaça legisladores, médicos e farmacêuticos com a excomunhão e diz que as pessoas não devem respeitar a legislação de seus respectivos países se ela não estiver de acordo com o que chama de lei de Deus, ele caminha perigosamente perto da ingerência indevida. Até onde se sabe, não faz parte das atribuições papais legislar supranacionalmente.
Em outro capítulo, o papa reafirma a posição da Igreja sobre pesquisas com embriões humanos, mergulhando em um território altamente polêmico. De um lado, pode-se supor que a encíclica seja uma espécie de veto liminar a pesquisas na área. Mas pode-se igualmente imaginar que se trata mais de um chamamento para que esse assunto seja abordado de uma maneira profundamente ética.
Em uma questão que divide até mesmo os especialistas, é natural que haja controvérsia também entre os católicos.

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