São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Zero para o sociólogo

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Como sociólogo, Fernando Henrique Cardoso não passaria no teste que seu ministro da Educação pretende implantar para os formandos do ensino superior.
Erra, primeiro, ao voltar suas baterias principalmente contra os partidos de oposição, como se fossem eles os responsáveis pelas reformas não andarem no Congresso. Bobagem. Mais perto da verdade está o FHC que revelou ao sindicalista Medeiros a sua "surpresa" com o fato de as emendas terem sido discutidas e aprovadas pelos líderes dos partidos (governistas) apenas para serem, depois, hostilizadas pelos liderados.
Erra também ao sobredimensionar as manifestações anti-reforma (só fala nelas ultimamente). Sem ser sociólogo, seu vice, Marco Maciel, está mais perto da realidade ao dizer que as manifestações foram (e continuarão sendo) pequenas.
Não que as reformas do governo sejam tão maravilhosas que inibam manifestações. Ocorre que a oposição diz não às reformas, mas não diz o que quer colocar, afinal, no lugar delas, com o que passa a impressão de estar defendendo o status quo. E o status quo, todos sabem, é indefensável.
Erra, por fim, ao posar de titular único da vontade popular. Aí, nem é questão de sociologia, mas de aritmética elementar. FHC foi eleito com 34,3 milhões de votos em 94,7 milhões possíveis. Dá, portanto, 36,26%. A menos que tenham alterado a matemática, 36,26% não é maioria.
O fato não retira a legitimidade de seu mandato (antes que me acusem de golpista). Mas qualquer sociólogo mesmo de faculdade de arrabalde diria que as eleições de 94 (como as de 89, aliás) não consagraram um projeto hegemônico.
Ao contrário, o país parece dizer nas urnas que sabe o que não quer, mas não sabe o que quer. Exceto, é óbvio, a estabilização da economia (a verdadeira vencedora da eleição), o que, de resto, é pedir o mínimo dos mínimos.
Com o sociólogo errando tanto, o presidente só poderia ter sofrido o desgaste que sofreu em um espaço de tempo inacreditavelmente reduzido.

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