São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 1995
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Primeiro sinal

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — O clima dentro do governo vai mal. O presidente Fernando Henrique Cardoso já exibe descontentamento com o ritmo de sua administração. É o reflexo das sucessivas ondas de desgaste.
O pedido ontem de demissão do secretário da Comunicação, Roberto Muylaert, é o primeiro sinal. Ele chegou a Brasília montado no prestígio da TV Cultura. Seus programas educacionais são reconhecidos mundialmente como exemplos de pedagogia na televisão.
Fernando Henrique e seus auxiliares não estavam apreciando o desempenho do secretário no governo. E o secretário não estava gostando do governo. Recusava o papel de babá da imagem oficial —pensou que implantaria inovações como ensino à distância.
O desgaste produz mais consequências. Apresentado pelo presidente como seu número 2, Clóvis Carvalho nem conseguiu se articular com o Congresso nem exerce influência nos demais ministros.
A idéia de um coordenador político, alimentada até mesmo por Fernando Henrique, era justamente para cobrir as deficiências de um Gabinete Civil fragilizado. A tarefa é parcialmente absorvida pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, o homem mais forte da Esplanada dos Ministérios.
A ordem, agora, é se comunicar. Fernando Henrique avalia que está perdendo a guerra da comunicação —por isso, por exemplo, colocou na sua agenda entrevista para o popularesco "Aqui Agora", do SBT.
Abundavam reclamações no Palácio do Planalto sobre o estilo tímido de Pedro Malan. Queriam que ele defendesse com mais ênfase o real, aparecesse mais na televisão, nas rádios. Malan não se sente à vontade nesse papel de animador cultural.
Já se sabe aqui em Brasília que ele, em meio a discretíssimos desabafos, insinuou as saudades de Washington, onde levava uma vida calma e bem-remunerada. Não tem a garra e os projetos de um José Serra que, com quatro anos de antecedência, lançou-se candidato —isso depois de o presidente ter dito que seus ministros não deveriam ser candidatos.
Para complementar, há sólidos indícios de aborrecimento de Pérsio Arida, presidente do Banco Central, acusado de cometer custosos erros —e, supremo suplício, ter de enfrentar cobranças sobre sua retidão moral.

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