São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Sérgio Motta assume face pública da ação política

DA REDAÇÃO

Passados três meses da gestão Fernando Henrique Cardoso, um consenso reúne aliados e adversários: esse governo foi um fracasso nas áreas de comunicação e de articulação política.
No primeiro caso, um quadro do governo foi sacrificado. No segundo, improvisou-se um coordenador para realizar as tarefas do Conselho Político e das lideranças do governo no Congresso.
A demissão, na quinta-feira, do secretário Roberto Muylaert é a melhor demonstração do fracasso na área.
O governo não conseguiu comunicar a seu secretário de Comunicação que ele deveria fazer a comunicação do governo, conforme se queixa o próprio demitido.
A queda do secretário e outros episódios anteriores parecem indicar o surgimento de um outro consenso: o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, tornou-se a face pública da coordenação política do governo.
É ele que dá a frase em código para a reforma da Previdência, ao anunciar que é preciso desacelerá-la até convencer o público.
Antes de colidir com Roberto Muylaert, Sérgio Motta trombara com Pimenta da Veiga, no PSDB, e Pimenta da Veiga renunciou.
É até natural que seja assim, admite-se no PSDB. "Pelo seu temperamento, mais extrovertido do que os outros, ele vai naturalmente ocupando espaços", diz Tasso Jereissati, governador do Ceará e ex-presidente do partido.
O líder peesedebista na Câmara, deputado José Aníbal (SP), faz raciocínio idêntico.
"O ministro é muito ativo e muito sintonizado com o presidente e com o projeto de reformas", afirma Aníbal.
Mas ambos contestam a idéia de que Sérgio Motta esteja assumindo na prática o papel de coordenador político.
Para Tasso, não se trata de uma questão de se ter ou não um coordenador. O problema é mais profundo e deriva da inconsistência dos partidos.
"Não há coordenador que dê um jeito nisso", diz o governador cearense.
José Aníbal prefere trabalhar com outros dados. Primeiro, nega que Sérgio Motta tenha sido o estopim da saída de Muylaert.
"Não era só o Sérgio Motta que estava incomodado com o problema de comunicação do governo. O presidente também estava", diz o líder do PSDB.
Depois, José Aníbal diz que as próprias lideranças governistas no Congresso se incumbiram de corrigir as falhas de coordenação.
Houve, na terça-feira, uma reunião entre ele próprio mais Inocêncio de Oliveira, líder do PFL, e Michel Temer, líder do PMDB.
No dia seguinte, o líder peesedebista chamou para uma conversa os líderes dos outros partidos governistas (PP, PTB e PL).
O que se acertou foi uma atuação mais agressiva e mais articulada entre eles, de forma a que o governo possa contar com o que o deputado chama de "uma maioria política e não apenas numérica".
O problema é que a ação em Brasília pode não bastar. Tasso considera ter havido "certo erro de estratégia ao se fazer a tentativa de costurar muito Brasília em vez de se costurar o país".
Traduzindo: o governador acha que o governo deveria falar mais para a sociedade em vez de dar prioridade à negociação política.
Nesse ponto, volta-se a Sérgio Motta. O ministro ficou incomodado exatamente com a avaliação de que o governo perdera a maioria, na sociedade, ao menos no que diz respeito ao projeto de reforma da Previdência.
Daí nasceu a sua sugestão de que o governo cozinhasse o projeto em banho-maria, como forma de ganhar tempo para recuperar a maioria supostamente perdida.
Outro ponto para Sérgio Motta foi obtido na discussão no partido em torno de abri-lo ou não para adesões, razão de fundo da divergência com Pimenta da Veiga.
Desde a campanha, Sérgio Motta defendia a tese de criação de um super-partido social-democrata, arrebanhando adesões no PMDB, PDT e até no PT.

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