São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Projeto social é, por enquanto, galeria de intenções

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O projeto social do presidente Fernando Henrique, anunciado como a prioridade do governo, não saiu do papel -limita-se, por enquanto, a uma galeria de intenções a serem implementadas. "Está lento", reconhece o presidente.
Ao tomar posse, FHC acenou com uma proposta ousada. Revolucionar o jeito como o governo federal distribui as verbas para combater a pobreza.
Num sinal de que não haveria mais espaço ao clientelismo e à dispersão com as verbas sociais, foram extintos o Ministério do Bem-Estar Social e a LBA (Legião Brasileira de Assistência).
Em seu lugar, surgiu uma nova concepção. Os programas seriam interligados, evitando a fragmentação dos recursos nos municípios. A dispersão era apontada como essência do desperdício.
A idéia é, articulando Estados e sociedade civil, fazer uma ofensiva nos bolsões de pobreza, envolvendo áreas da educação, saúde, saneamento, geração de emprego e até reforma agrária. Nome de batismo: Comunidade Solidária.
A expectativa de Fernando Henrique e de sua mulher Ruth, presidente do Comunidade Solidária, era que a opinião pública pudesse ver rapidamente a lista das cidades escolhidas.
"Precisamos mostrar mais agilidade, sair logo distribuindo benefícios", preocupa-se o ministro das Comunicações, Sérgio Motta.
Até agora, apenas uma cidade foi atendida, com a distribuição de alimentos: Teotônio Vilela (AL). Depois de a Folha revelar que, ali, a mortalidade explodiu com a suspensão da ajuda em 94.
Os municípios que serão atendidos ainda não estão definidos. A secretária-executiva do programa, Anna Maria Peliano, percorre o Nordeste para escolhê-los.
"Cada cidade será um laboratório social. Temos de nos basear em informações confiáveis", diz Peliano. "A pressa é um perigo."
O orçamento envolvido é pequeno: cerca de R$ 3,2 bilhões. Na melhor das hipóteses, o projeto alcançaria 10% dos municípios brasileiros. Ou seja, 500 municípios.
A meta mais ousada do Comunidade Solidária está nas mãos do ministro da Saúde. Adib Jatene recebeu estímulo do presidente para um projeto que, em quatro anos, pretende reduzir à metade a taxa de mortalidade infantil.
Hoje, estima-se 55 mortes de menores de um ano para cada 1.000 nascidos. "Dá para fazer", afirma Jatene.
O programa absorveria, ao ano, R$ 2,1 bilhões. Estão garantidos, até agora, R$ 800 milhões. O restante terá de ser negociado com Estados, municípios e fontes de financiamento internacionais.
O projeto social do governo colocou numa ponta a saúde e, na outra, a educação. As duas caminhariam juntas. Foi justamente na educação que FHC investiu em marketing: deu aula no interior da Bahia, reuniu-se com professores e empresários. Sua mensagem é: a tarefa não é apenas do governo.

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