São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Demissão de Muylaert leva DM-9 de volta ao governo

JOSIAS DE SOUZA; RUI NOGUEIRA

JOSIAS DE SOUZA
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília
RUI NOGUEIRA
Coordenador de Política da Sucursal de Brasília
A saída de Roberto Muylaert da Secretaria de Comunicação Social da Presidência fez renascer no governo o plano de utilizar os serviços da DM-9, a agência de publicidade que atuou na campanha de Fernando Henrique Cardoso.
Muylaert era um empecilho à idéia, acalentada principalmente pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta. Conforme noticiou ontem a Folha, um dos publicitários da DM-9, Geraldo Walter, voltou a assessorar informalmente o Palácio do Planalto.
Munido de dados oficiais, coletados principalmente nos ministérios da Previdência e do Planejamento, Walter trabalha na elaboração de um programa de TV sobre os cem primeiros dias do governo.
Esta é a segunda vez que Walter é acionado informalmente pelo Planalto. No início de fevereiro, a DM-9 elaborou uma logomarca para o governo e esboçou a campanha educacional "Acorda Brasil", menina dos olhos de FHC.
Contrariando as opiniões de Sérgio Motta, Roberto Muylaert opôs-se à aproximação do governo com a DM-9 sem a abertura de processo de licitação. Como resultado da controvérsia, anunciou-se que o PSDB, partido do presidente, remuneraria a agência.
A Folha apurou que Muylaert era um crítico sistemático do poder do chamado "grupo da campanha" -nome dado a assessores que, liderados por Motta, trabalharam na campanha eleitoral na área de marketing e publicidade.
Em diálogos reservados, auxiliares de Muylaert atribuem seu desgaste no governo à resistência do secretário aos planos de Motta. A reação, segundo a crença da equipe de Muylaert, veio na forma de notas "plantadas" na imprensa.
Supostamente vazadas por Motta e, depois, por auxiliares do Planalto, elas responsabilizavam Muylaert pelos desencontros do governo na área de comunicação.
Muylaert chegou a conversar com o presidente. Disse que não se sentia responsável pela comunicação do governo.
Isolado na Esplanada dos Ministérios, a cerca de mil metros da sala do presidente, disse que sua tarefa, até onde entendera, era coordenar a implantação do programa de educação à distância e zelar pela programação das emissoras estatais de rádio e TV.
Submetido a uma trégua, decidiu permanecer no governo, a despeito das fofocas de que se considerava vítima. Nos últimos dias, porém, reclamou a auxiliares do suposto recrudescimento das baterias de Motta contra sua secretaria.
Muylaert decidiu então abandonar o governo. Deve ser acompanhado por auxiliares. Amanhã, o presidente da Radiobrás, jornalista Rui Lopes, entregará sua carta de demissão ao Palácio do Planalto.

Texto Anterior: Pega, leve
Próximo Texto: FHC tenta agora diálogo com partidos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.