São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Covas é aprovado por 31% dos paulistas

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após três meses no Palácio dos Bandeirantes, o governador Mário Covas (PSDB) está sendo reprovado pela população.
Seu desempenho, segundo o Datafolha, tem avaliação positiva de apenas 31% dos paulistas.
Em dezembro, a expectativa dos paulistas em torno do seu governo era altamente positiva -64% esperavam um desempenho ótimo ou bom do governador.
O desgaste de Covas revela os altos e baixos de seu governo. Marcado inicialmente pelo imobilismo, sua administração optou no último mês por projetos de impacto, como o plano de parceria com o empresariado.
Mas ainda não houve o efeito desejado pelo governo. Alguns agravantes, como as sete rebeliões em presídios e a greve que deixa três milhões de alunos sem aula, contribuem para piorar o quadro.

Êxito
No campo político, o governo contabiliza algum êxito. Ao contrário do presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador paulista não enfrentou tropeços com os adversários nem sofreu derrotas do Legislativo.
Há duas semanas, por exemplo, conseguiu que adversários tradicionais, como PT e PPR, se unissem em torno do PSDB para eleger o deputado tucano Ricardo Tripoli presidente da Assembléia Legislativa.
Para o vice-governador Geraldo Alckmin, o acordo que pôs fim ao reinado de mais de dez anos do PMDB na Assembléia "foi feito sem troca-troca" de cargos. "É uma mudança cultural importante", afirma.
Responsável pela negociação com PT e PPR, o chefe da Casa Civil do governo, Robson Marinho, acha que Covas poderá obter "maiorias pontuais" na Assembléia.Aliados, PSDB e PFL têm apenas 28 dos 94 deputados.
"Quando houver projetos de forte apelo social, o PT terá dificuldades de não votar conosco", diz. "Quando se tratar de privatizações, o PPR deve nos ajudar". Covas contabiliza ainda o apoio de dez deputados do PMDB e PDT.
Na avaliação dos auxiliares, o governo Covas tem mais pontos positivos do que negativos. Comparado ao governo FHC, a administração paulista é considerada mais arrumada e pronta para deslanchar.
Só a folha de pagamento de dezembro, que seria paga cinco dias depois, era superior a R$ 500 milhões. Covas parcelou o pagamento de dezembro e janeiro e paralisou 400 obras.
A etapa seguinte foi a demissão de 23 mil servidores, parte deles "fantasmas" e outros que trabalhavam como cabos eleitorais do PMDB. Na sequência, extinguiu órgãos e iniciou o processo de reestruturação e venda de empresas do porte da Cesp, Eletropaulo e Sabesp.
Mas a oposição reclama da paralisação da máquina. "Foi o desmonte do governo", diz Milton Monte, líder do PMDB na Assembléia. "O governo está contaminado por um imobilismo muito grande", afirma o deputado Roberto Gouveia (PT).

Método empresarial
Para os covistas, o governador está apenas enxugando o governo para poder governar melhor. Para o secretário Antonio Angarita, os métodos de Covas são semelhantes aos de um empresário que adota medidas duras para tirar sua empresa do buraco.
Contra Covas, há ainda o fato de ter tropeçado onde menos se esperava. Em janeiro e fevereiro, a polícia matou 136 pessoas -a média mensal, de 68 mortes, superou de longe a média de 43,3 do último ano do governo Fleury.

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