São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995 |
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Governo recuou na abertura à importação Estratégia para reforma constitucional também muda JOSIAS DE SOUZA
Inseguro quanto à possibilidade de dar novos passos à frente, o governo andou para trás. Na terça-feira, a exemplo do que já havia feito com a reforma tributária, o Palácio do Planalto decidiu pôr em banho-maria o projeto de reforma da Previdência. Foi o primeiro recuo da semana. Na quarta-feira, o estilo crustáceo foi estendido à área econômica. Para tentar reverter a sucessão de déficits comerciais, o governo elevou de 32% para 70% a taxa de importação de automóveis e de outros 108 itens da pauta de importações, de geladeiras a ventiladores e rádios. Trata-se de um retrocesso na política de abertura econômica. A iniciativa foi apresentada pelo Ministério da Fazenda como inevitável. Argumentou-se que, sem ela, o governo correria o risco de assistir à erosão das reservas internacionais do país. Analisa-se agora nos gabinetes de Brasília se haverá necessidade de baixar novas providências anticonsumo. Fernando Henrique quer que seus auxiliares econômicos evitem expor o real a riscos desnecessários. Nos diálogos travados durante a semana, foi consensual a impressão de que, ao elevar a tarifa de importação para 70%, o governo poderia estar decretando um arrocho excessivo nas compras de produtos estrangeiros. Nas reuniões internas, foram ventilados percentuais mais baixos. Prevaleceu, porém, a tese de que, em se tratando de uma salvaguarda ao real, o melhor seria exagerar. Registrou-se um outro recuo do governo no Congresso. Sob pressão da Marinha, o Planalto desistiu de quebrar o monopólio estatal na área de navegação de cabotagem. Acabou optando pela mera flexibilização do setor. Segundo a lógica do governo, os retrocessos oficiais não devem ser interpretados como rendição. Apenas eliminam-se áreas de atrito, para avançar em tópicos menos controvertidos da reforma. Em encontro com ruralistas, na quinta, o presidente disse que mantém a intenção de mexer nos "vespeiros" da Constituição. Na sexta, alertado pelo Gabinete Militar da Presidência sobre a organização de um enxame da CUT para recepcioná-lo, o presidente cancelou visita que faria a Conceição do Araguaia (PA), preferindo voar para a serra de Carajás. Ciosos em relação à CUT, os militares do Planalto, responsáveis pela segurança do presidente, terminaram por submetê-lo ao risco de uma queda de pelo menos dez metros de altura. Erguida sobre um vale do rio Paraopebas, a plataforma de madeira escolhida para que o presidente e nove governadores posassem para fotos cedeu. Feriram-se três jornalistas. Texto Anterior: A operação mitocídio Próximo Texto: UMA SEMANA NEGRA PARA... Índice |
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