São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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México e Cingapura movem guerra contra automóveis

FLAVIO CASTELLOTTI ; DANIELA ROCHA ; AURELIANO BIANCARELLI
DA CIDADE DO MÉXICO

DANIELA ROCHA
Todos os dias na Cidade do México 20% da frota de carros particulares ficam na garagem. A medida, implantada em 89, é uma tentativa de resolver os problemas de congestionamento e poluição da maior cidade latino-americana, com cerca de 20 milhões de habitantes.
Funciona da seguinte maneira: na segunda-feira, não circulam os veículos com placas de final um e dois; na terça-feira, não circulam os de final três e quatro e assim por diante, até sexta-feira.
No fim-de-semana, todos têm permissão para circular.
Alejandro Villegas Lopez, diretor Geral da Secretaria de Transportes do Distrito Federal, participou da elaboração do programa e acredita em sua eficácia.
"As pessoas passaram a se mobilizar a fim de encontrar formas alternativas para ir ao trabalho", disse à Folha.
Para ele, há no México um preconceito cultural contra o sistema coletivo, que só pode ser vencido, "quando as pessoas o experimentam e constatam suas vantagens".
A cidade possui dez linhas de metrô, que juntas somam 178 km, 207 rotas de ônibus e 992 de microônibus, além de 63 mil táxis e 2,5 milhões de carros particulares.
Metrô, ônibus e microônibus transportam juntos 23,1 milhões de passageiros por dia, enquanto táxis e carros particulares transportam cerca de 3,5 milhões.
"Claro que o governo tenta dar o máximo de ênfase possível ao sistema coletivo", disse Villegas.
Há uma nova linha de metrô em construção e o projeto já aprovado de se construir um "trem elevado", que trafegará sobre um viaduto -espécie de "minhocão" paulistano.
Em Cingapura, no sudeste asiático, o trânsito é disciplinado na base de punições, multas e incentivos fiscais.
A prática acabou com os congestionamentos e vem engordando os cofres públicos.
Cingapura, uma cidade-Estado com 2,8 milhões de habitantes, tem área 2,2 menor que São Paulo. A ilha principal é menor ainda. Se sua frota de cerca de 1 milhão de veículos saísse às ruas, a cidade parava.
Para conter o consumo, o governo passou a exigir uma licença especial para a compra de automóveis. Custa cerca de 60% do valor do carro novo e vale por dez anos.
Para os usados a nova licença é ainda mais cara. A maioria dos proprietários prefere jogar o carro fora ou vendê-lo para países vizinhos. Para evitar congestionamentos, o governo criou "zonas restritas" na região central. Para circular nelas, os veículos particulares precisam exibir selos-pedágios que custam de US$ 2 a US$ 3 por dia.
Donos de carros podem optar por placas vermelhas que garantem desconto de 33% nas taxas cobradas pelo Estado. Com essas placas, os carros só podem sair à noite e finais de semana.
Tráfego pesado só circula nos corredores que contornam a cidade. Na região central, 2.700 ônibus e uma malha de metrô -todos com ar condicionado- permitem o acesso a todos os lugares. Catorze mil táxis percorrem a ilha. Custam a metade dos nossos e têm ar condicionado. Mas só pegam passageiros em pontos.
Em Nova York, cidade com cerca de 950 mil automóveis, 850 ônibus e 11.787 táxis circulando diariamente, as medidas são menos radicais, mas rigorosas.
O chefe da Divisão de Inteligência do Trânsito da cidade, John Valles, 49, faz a cada seis meses um levantamento das áreas de congestionamento.
Diariamente, diz, mobiliza três patrulhas: "Temos agentes que circulam a pé, 55 patrulhas motorizadas e o serviço de escuta, que atinge os pontos onde o acesso é difícil", diz.
Ao todo, 350 agentes coordenam a fiscalização nas ruas. Trabalham com a polícia de trânsito, que soma cerca de 2.300 pessoas para controle do tráfego.
Outros departamentos dentro da Divisão de Inteligência no Trânsito ajudam na coordenação do tráfego. São as unidades especiais, como a de Reforço de Tráfego, para controle de congestionamento em cruzamentos, a Unidade de Construção, que inspeciona áreas em construção, e a de Reforço de Tráfego de Caminhões, para controle de número de caminhões nas ruas e sua pesagem, para evitar que destruam o asfalto e a estrutura de pontes.

Colaborou AURELIANO BIANCARELLI, da Reportagem Local

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