São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
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Mulher que ganha mais leva homem ao divã

CAROLINA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 03/04/95
A personagem C.J. é procuradora-geral de Justiça e não procuradora-geral da República, como foi publicado ontem na reportagem "Mulher qua ganha mais leva homem ao divã", à pág. 3-8, do caderno São Paulo.
A primeira crise do casamento de 15 anos da procuradora-geral da República C. J., 46, e de seu marido, o advogado criminalista D. J., 49, começou no jantar de comemoração de seu novo cargo.
"Ele perdeu a fome quando eu comentei meu salário", lembra C. "Eu iria receber cerca de R$ 1.500 a mais do que o fixo que ele recebia no escritório de advocacia em que trabalhava."
Antes de entrarem com o pedido de divórcio, J., totalmente avesso ao divã, concordou em consultar um terapeuta. "Ele tinha pesadelos onde eu mostrava meu holerite e mandava ele lavar uma pilha de louça na cozinha."
Oito meses de terapia (ainda em andamento), a abertura de uma conta conjunta e a proibição do assunto salário conseguiram evitar a separação de C. e J.
"Meu marido está se acostumando com a idéia de que no fundo o fato de eu ganhar mais só significa uma melhoria no nosso padrão de vida."
Apesar de afirmar que não teria problema em ganhar menos que a mulher, o psicólogo e escritor de "O Mito da Masculinidade", Sócrates Nolasco, 38, considera que há várias razões para os homens sofrerem com isso.
"O macho, criado para se dar bem em tudo o que faz, acaba entrando em conflito com seus padrões de criação quando sua mulher passa a ganhar mais do que ele", afirma.
Para contornar a situação, Nolasco aconselha uma revisão do "contrato casamento".
"O casal tem de localizar o problema e tentar ver o casamento como um pacto de cumplicidade, onde o dinheiro é só um instrumento para viabilizar projetos em comum. E quanto mais vier, melhor. Não importa a procedência."

Competitividade
Mesmo adepto de uma proposta de vida a dois "moderna", o arquiteto Roberto Nascimento, 30, diz ter tido problemas quando o escritório de sua mulher, a também arquiteta Regiane Machado, 27, passou a ter mais clientes e maior rendimento que o seu.
"Me senti impotente e percebi o quanto, inconscientemente, competia com ela", diz.
"Foi um momento delicado do relacionamento, tivemos várias discussões", afirma Regiane. "Eu não conseguia entender o porquê de ele estar tão incomodado com o fato de eu ganhar mais dinheiro."
Algumas noites de conversa e uma viagem ao Caribe -patrocinada por ele- encerram a questão. "Tive de pagar todas as contas da casa na semana da viagem, mas valeu a pena, acertamos os ponteiros", diz Regiane.
Segundo a psiquiatra Mônica Lemos, 40, casais mais novos resolvem problemas como este com mais facilidade.
Especializada em tratamento de casais, ela acredita que os homens que estão hoje na faixa dos 40 anos viveram um momento econômico em que o marido ainda podia e devia sustentar a mulher.
"Daí a dificuldade em aceitar o momento atual, quando a mulher exige trabalhar e ainda por cima consegue voltar para casa com mais dinheiro no bolso."
Um exemplo dessa maior dificuldade é a vivida pelo casal Antônio, 58, gerente de vendas aposentado, e Ana Cristina Andrada, 41, comerciante.
Um mês na bucólica região francesa da Provence não foi suficiente para acalmar os nervos.
"Depois da viagem, ele entrou em depressão, dizendo que apesar de me adorar não conseguia aceitar o fato de não estar trazendo dinheiro suficiente para dar o conforto que eu merecia", conta.
Em casas separadas, Ana Cristina e Andrada estão tentando resolver o impasse, após 16 anos de casamento. "Espero que o psiquiatra que ele está consultando mostre que um casamento conta mais do que um saldo bancário."

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