São Paulo, domingo, 2 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mãe foge com filha e pai fica 4 anos sem ver menina

Engenheiro quer custódia de Thaís, que vive nos EUA

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Há quatro anos o engenheiro Anizio Nogueira Palhano de Jesus, 37, não vê a filha, Thaís Fialho Palhano de Jesus, 7. A mãe da menina, Deyse Fialho de Araújo, desapareceu com a filha depois da separação do casal.
Dois dias após o sumiço, ele pediu à Justiça mandado de busca e apreensão e solicitou que Thaís fosse impedida de sair do país. Não conseguiu encontrá-la e, meses depois, descobriu que ela morava nos EUA com a mãe.
Segundo Jesus, para conseguir deixar o Brasil com a filha, Deyse tirou nova certidão de nascimento da menina, mudando seu nome e omitindo o do pai.
Thaís passou a se chamar Tatiana Fialho de Araújo e deixou o país. Jesus conseguiu provar a fraude, mas não recuperar a filha. "A Justiça brasileira reconhece que Thaís e Tatiana são a mesma pessoa, mas não me dá um mandado de busca no nome de Tatiana pois ela não existe. E, para a Justiça americana, quem não existe é Thaís", reclama.
Jesus quer a custódia da filha. "Se as coisas não tivessem acontecido dessa forma, poderia ter uma situação normal de visitação. Agora, quero Thaís pois acho que a mãe não tem condições psicológicas de criá-la."
O pai sabe que sua situação é difícil. "A mãe tem tudo. O pai, nada. Mato um leão por dia para provar que quero minha filha e que tenho condições para isso."
O advogado Paulo Newlands, 52, passa por situação semelhante. Seus filhos Paula, 10, e Guilherme, 8, estão na Flórida com a mãe, Nanci Francioni. Desde agosto de 1993 ele não os vê.
A família já vivia na Flórida (EUA) quando o casal se separou. Newlands voltou para o Rio e, desde então, tenta trazer os filhos de volta: "Acho que comigo eles estariam melhor".
Newlands diz que a ex-mulher casou com um americano e quer que as crianças se tornem americanas. "Quero que meus filhos continuem brasileiros", diz.
Ele critica a legislação que dá direito ao pai de visitar os filhos: "Não quero visitas, mas oportunidades iguais para criá-los".
O mesmo motivo levou o médico José Roberto Tisi Ferraz, 43, à Justiça. Separado da mulher desde 92, ele tenta ampliar seu direito de visitar a filha Stéfanie Cequeiros Tisi Ferraz, 5.
Após o divórcio, a Justiça concedeu ao pai direito de ficar com Stéfanie em fins-de-semana e manhãs de segunda-feira alternados. "Fora disso, não consigo falar com ela nem por telefone."
Ferraz quer estar com a filha também às quartas, mas teve um pedido negado. "A juíza perguntou à mãe se ela permitia. Ela negou e a juíza também. Tentei argumentar, mas ela disse que a mãe pode decidir", conta.
O médico repete a mesma queixa do engenheiro Jesus: "Só consegui o mínimo garantido a um pai. Se fosse bandido, teria o mesmo tratamento. A Justiça dá tudo à mãe, nada ao pai".

Texto Anterior: Aumenta interesse dos pais em disputar guarda de filhos
Próximo Texto: Especialista defende direito das crianças
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.